segunda-feira, 9 de março de 2009

Epidemia de dengue no Rio de Janeiro

Esta epidemia em nosso Estado revela as condições precárias em que se encontra a saúde pública carioca e a dificuldade com que os governantes lidam com a prevenção de doenças, ainda que, desde os últimos surtos, os infectologistas e epidemiologistas os advertissem para a necessidade de uma abordagem drástica da questão.
Quando se tornou impossível negar os fatos e a epidemia foi admitida, passou-se a uma atitude alarmista que, se por um lado propiciou ações de emergência por parte do Estado, por outro tem atuado como mais um fator que agrava a resposta imunológica ao vírus ao deflagrar uma campanha aterrorizante através da mídia, sobretudo no que tange às crianças. Estas, incapazes de compreender a situação e contagiadas pelo desespero e pânico dos pais e, muitas vezes, de professores, tornam-se ansiosas e deprimidas com a possibilidade de morrerem vitimadas por dengue, desenvolvendo quadros de pânico ao mosquito. Considerando que nas comunidades carentes é praticamente impossível evitá-los, isto se soma ao terror das balas perdidas que já faz parte do seu cotidiano.
O medo enfraquece o sistema imunológico e isto é cientificamente provado.
Mesmo os profissionais de saúde, ao lidarem com um número crescente de mortes pela infecção, se assustam e acabam incorrendo em erros lastimáveis.
Várias perguntas ficam no ar, mas o que a população deseja saber é o que deve fazer para evitar cair doente e ter complicações graves que podem levar à morte, principalmente as crianças e os idosos, mas também a qualquer um que esteja com seu sistema imunológico prejudicado.
É claro que as medidas para erradicar focos do mosquito aedes aegypti são fundamentais, que a população deve se envolver na prevenção evitando atitudes irresponsáveis que levam ao acúmulo de lixo e materiais que servem de reservatórios para água das chuvas. É óbvio que o governo, através dos seus vários escalões, deve melhorar a assistência à população tanto na área social quanto na de saúde. É importantíssimo que haja unidades de saúde aptas a fazer o diagnóstico dos casos que necessitem de hidratação venosa e transfusões sangüíneas, que o pronto-atendimento seja rápido com a triagem dos casos mais graves sem que a população espere por tantas horas até que seja atendida por um médico. Lógico que médicos, enfermeiros e auxiliares devem ser convocados emergencialmente, embora não haja necessidade de buscá-los em outros Estados, visto que há profissionais suficientes aqui. Claro que as campanhas para doação de sangue, contando com a solidariedade daqueles que são compassivos nestas situações, são válidas, podendo ajudar a melhorar os estoques dos bancos de sangue do Estado (ainda que saibamos que os fenômenos hemorrágicos, na maioria dos casos, são revertidos apenas com a hidratação).
Tudo que está acontecendo é válido, mas, nesta fase de epidemia, podemos parar um pouco, nos tranqüilizar e ao invés de sairmos correndo para os hospitais de emergência quando surgirem os sintomas de provável dengue, como tem sido orientado na mídia, vamos tentar lidar com esta virose de forma equilibrada, deixando as atitudes intempestivas, dramáticas, de vitimização e horror apenas para aqueles que, pela própria condição de absoluto abandono sócio-econômico, não têm a menor condição de avaliar sua possibilidade de auto-ajuda.

Nenhum comentário: