terça-feira, 30 de junho de 2009

Contradição

Quando você se foi, de tão grande a dor, pensei que fosse arrebentar. Meu peito doeu quando seu espírito deixou o corpo e me senti completamente esvaziada e perdida. Estava em choque. Não conseguia acreditar.
Desde a semana anterior à sua morte, eu sabia que ia acontecer e imaginava como seria. Mas, na hora, foi algo totalmente novo e inesperado. Precisei então tomar as providências cabíveis e ao mesmo tempo queria estar ao seu lado, ao lado daquele corpo de quem eu já cuidava há tanto tempo e com tanto zelo. Seguiu-se uma espera de incalculável tempo, arrumei sua roupa, seu corpo foi guardado e enfeitado de flores coloridas que eu dispus misturando com outras de pétalas brancas, como que pintando um quadro, como tantas vezes eu fiz com as tintas pra depois mostrá-lo e você me dizer que gostava que fosse bem colorido, usando muito vermelho, amarelo, azul, verde, rosa etc. etc. No dia seguinte, lhe fiz todas as homenagens que consegui fazer, algumas secretamente, que só eu poderia entender e me amparei como pude, para suportar a dura realidade, a sua falta.
Seguiram-se outros acontecimentos dolorosos na família que tentavam ocupar minha mente e minhas horas, talvez na tentativa da Vida de me desviar da minha própria dor. Cuidados necessários a outras pessoas me impediram de assistir à sua missa de sétimo dia, algo totalmente inusitado e extremamente doloroso para mim, mas que me ensinou na prática a me desdobrar, estando ao mesmo tempo em dois lugares: naquele onde eu era necessária em corpo e no outro, mentalmente, onde meu coração desejava. Assim, fiz tudo que devia fazer, embora emocionalmente estivesse paralisada pela dor da sua morte.
Chorei o quanto pude, sozinha. A pior dor foi a da primeira noite sem você, uma dor visceral que me causou frio extremo e me corroeu por dentro.
Então percebi que devia sobreviver, que tinha que desarrumar a casa e tratei para que não houvesse uma desestruturação maior da família. Agi como você agiria, fiz da melhor forma que consegui. Tudo se harmonizou na medida do possível considerando-se que era a perda da matriarca, em torno da qual tudo e todos giravam.
Aí, aos poucos, eu fui podendo entrar em contato com a minha própria dor: eu precisava tê-la de volta, não me acostumava à sua ausência nos meus dias e noites. Sofri e chorei e me senti perdida e sozinha, mesmo no meio dos outros que eu amava. Ninguém seria capaz de preencher o seu lugar na minha vida que, entretanto, devia continuar.
Encontrei como saída para enfrentar o sofrimento, escrever para você o quanto fosse necessário. Eu lhe contaria toda falta que você me faz, tudo que fosse acontecendo em minha vida, pediria seus conselhos e orientações como sempre fiz.
O tempo passou, eu melhorei, ainda sofro, choro, meu peito ainda dói, minha garganta aperta quando sinto a vida agora tão diferente e vazia.
Nesse momento, eu me pergunto quem sou se sempre só fui aquela que a seguia e amava com veneração.
E a cada dia tomo contato com uma parte de mim que ainda não conhecia, como se, aos poucos, fosse nascendo, podendo sem você, ser inteiramente. Ser infeliz por tanto amor, por não tê-la junto e porque a vida continua.
Até que fique apenas a saudade que faz companhia na ausência e acalma a dor da perda, trazendo quem se ama para perto outra vez com as lembranças felizes quando for necessário.
.
.
Este post faz parte da blogagem coletiva de junho do blog Duelos Literários:
A Vida Continua...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Trem da Infância

Trem da minha infância tão feliz
Imaginando sua passagem nos trilhos a sorrir.
Piuí... piuí... piuí... piuí... piuí... piuí...
Na cadência do seu ritmo vinham vagões
Coloridos, levados pela Maria-fumaça imponente
E naquela nuvem que soltava se escondiam
Os personagens da minha fantasia
Bailando no ar, na dança da sequência do trem...

Hoje eu me pergunto:
É o homem que tem o olhar
Ou é o olhar que faz o homem?

domingo, 28 de junho de 2009

De Amor em AMOR

Aurora de sóis escaldantes
Espargindo vermelho-alaranjado no horizonte,
Aquecendo a manhã da minha existência
Você chegou eternizando aquele instante...

Inesperada explosão naquela esfera
Prateada e sombria dos meus dias,
Entrou dançando e trazendo alegria
A quem dormitava em interminável espera.

E hoje, passados tantos anos,
Duvido que exista sobre a Terra
Alma que seja só luz e primavera
Como esta que cedeu aos seus encantos.

Sigamos fortalecendo os elos radiantes;
Pelo caminho espalhando flores perfumadas;
Harmonizando, esclarecendo, sendo amparo na jornada
Dos que amamos e de qualquer outro semelhante.

sábado, 27 de junho de 2009

Luarormônio

Quando ela reina no céu absoluta,
Enviando seus raios prateados ao mundo,
Traz um quê de assanhamento aos corações.
Deixa no ar , nas pessoas, sentimento profundo.
É ter o sentido aguçado para o outro,
Uma vontade enorme de agarrar,
É o beijo que anda à solta, faminto,
A busca incessante do relacionar.

A cabeça zonzeia , está nas nuvens,
Hipersensibilidade no olhar,
Tudo parece tão imenso e passageiro,
É coisa de arrepiar e endoidar.
Nada faz sentido e, ao mesmo tempo,
É só gravidade no que pintar.
Faz-se tempestade de chuvisco,
Melhor mesmo é deixar passar...

Apesar de toda essa barafunda na mente,
O que se sente, não se pode deletar.
Porque o sentimento, esse é transparente,
Sob os auspícios do astro argênteo no ar.
É lindo olhar no céu quando ela é plena,
Pois explodindo de carinho vou estar,
Só resta encontrar alguém que queira,
Uivar junto, a noite inteira, à beira-mar.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Drogas: a Opção Equivocada para Lidar com a Dor de Encarar a Si Mesmo

As drogas são tão antigas quanto a humanidade, sendo usadas com fins religiosos na Antiguidade e nos ritos de passagem, em tribos primitivas, eram utilizadas certas substâncias que alteravam a consciência. Ópio, haxixe, cogumelos, LSD etc. se sucederam, ao longo do tempo, em várias sociedades.
Os problemas com drogas abarcam uma enorme variável, com relação à diversidade não só das substâncias utilizadas que causam efeitos deletérios no corpo e mente, mas ainda com respeito às suas consequências nos âmbitos pessoal, familiar, social, econômico, político e espiritual.
É um assunto extremamente complexo e polêmico.
As drogas mais usadas variam em cada sociedade e vêm mudando através do tempo. Há as drogas lícitas e as proibidas em cada contexto analisado.
O que existe em comum com relação a todas elas é a necessidade que o usuário tem de buscar alívio através da alteração da percepção da realidade, ou seja, fugir de algo que causa dor. Tanto as drogas usadas com efeito medicamentoso quanto as utilizadas para outros fins aí se encaixam (hipnóticos, psicoanalépticos, analgésicos, alucinógenos).
Em nosso meio destacam-se o álcool, tabaco e a cola de sapateiro como as mais usadas. Entre as mais devastadoras cresce o uso do crack, acompanhando cocaína, heroína, maconha, ecstasy e muitas outras.
A drogadição é uma doença e como tal deve ser encarada, sendo difíceis e bastante complexos a abordagem e o tratamento do dependente químico. É preciso tratar a família e o contexto social conjuntamente, para que haja a recuperação. A repressão, além de não resolver o problema com as drogas, ainda estimula o comércio que enriquece tantos com a destruição da vida de tantos mais.
Há um perfil de vulnerabilidade às drogas e ao álcool. A personalidade do dependente tem características específicas que incluem tendência à fantasia, baixa autoestima, isolamento, sensibilidade exagerada e insegurança. Geralmente se consideram estranhos a este mundo, não sabendo lidar com ele, com a dura realidade, tendo grande dificuldade nos relacionamentos de vários tipos.
Com esta predisposição, que já vem expressa na personalidade e pode ser detectada de várias maneiras, em momentos cruciais da vida, a pessoa pode se tornar adicta e trilhar um caminho desastroso com difícil reabilitação e tendência a recaídas. O tratamento deveria focar a reabilitação do ser, isto é, tratar o que está por trás do vício, o sofrimento profundo.
No que tange à Astrologia, uma abordagem dos dependentes químicos no sentido de detectar os pontos vulneráveis e promover o autoconhecimento permite que haja maior autoaceitação e elevação da autoestima com facilitação dos relacionamentos em vários âmbitos. Na análise do mapa natal de drogadictos são frequentemente encontrados aspectos difíceis dos planetas pessoais (Sol, Lua, Mercúrio, Marte, Vênus) com os transpessoais Urano, Netuno e Plutão, além de outras características importantes. O estudo de cada mapa com terapia focada no mesmo pode ser de grande ajuda no tratamento e reintegração social. É importante detectar as energias presentes naquele indivíduo e orientá-lo a direcioná-las de outras formas. A Astrologia pode ser, ainda, utilizada na prevenção, sendo feita uma análise prévia para evitar que determinado indivíduo torne-se vítima das drogas. Assim, por exemplo, uma pessoa com Netuno forte e mal aspectado no mapa natal, deve ser estimulada a direcionar esta energia talvez através da arte (música, pintura, cinema, teatro), evitando que utilize a tendência ao sonho e fantasia ou a vitimizar-se, buscando alívio no álcool ou nas drogas para seus problemas. Outra consideração que pode ser feita, principalmente em relação ao alcoolismo, uma vez que Netuno mostra tendência à dissolução do ego, é a possibilidade de possessão da pessoa predisposta por energias ávidas de saciar o desejo por álcool, que se concentram nas proximidades de bares, explicando a dificuldade desta pessoa para manter-se abstêmia fora de casa.
Através do incentivo ao autoconhecimento, os dependentes químicos serão encorajados a reconhecer seus pontos frágeis, aprendendo a lidar com eles e superá-los, desenvolvendo aos poucos maior capacidade de encarar a realidade ao invés de fugirem dela, tornando-se capazes de constituir relacionamentos mais satisfatórios.
O tratamento da drogadição não pode se limitar a combater o vício e tratar o corpo. A reabilitação, com reintegração à família e à sociedade passa pela cura da dor primordial, a fragilidade do ser.
.
.
Texto participante da blogagem coletiva “A Polêmica das Drogas, Hoje!”,
do blog cd-ladob.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Haikai

Ser mesquinho é
Abocanhar da Vida
Só as migalhas.

Abundância é
Abrir-se e mergulhar
Na imensidão.

O insólito,
Se frequente, vira
Ordem natural.

Estou Lendo...

A Terapia da Reencarnação, de Harald Wiesendanger.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Corporificando as Transformações

Enquanto me ocupava das tarefas diárias, deixando a mente aberta para quaisquer pensamentos, me ocorreu uma idéia bem interessante. Gostaria de escrever uma carta para mim mesma, como se fosse, agora, inevitável, um confronto definitivo com minha verdade. Não a verdade absoluta, a essência, o que gera todas as coisas. Mas, pelo menos, a verdade atual, como uma tomada de consciência, uma avaliação, como aquelas que se fazem no meio dos cursos para averiguar o aproveitamento.
Imagens então surgiram dentro da minha cabeça e foram acompanhadas do sentimento, quase com uma participação corporal, com os movimentos se insinuando em mim.
Imaginava minha situação atual como um predador espreitando a caça, rondando a presa, hipnotizando-a com o olhar, cercando-a com movimentos sincronizados, envolvendo-a aos poucos numa dança compassada, formando a teia à espera do bote certeiro ou compondo com fios invisíveis a armadilha que pegará, indefesa, a presa. Sou hoje, o caçador, predador e sou também a caça.
Também como imagem metafórica, vejo a dança da sedução. O encontro instintivo de animais, com o impulso da união; a aproximação, os ruídos, a exalação de odores agradáveis, o cerco, a atração dos olhares e, finalmente, a entrega, a submissão, a posse.
Tomo posse de mim nesse momento sabendo que tenho as rédeas da minha vida nas mãos, dando o destino que quiser às coisas, aos fatos, às pessoas.
Avalio agora cada acontecimento como uma possibilidade de escolha, uma opção, não deixando de ter a consciência do todo, de mim e dos que me cercam, me submetendo ao destino, mas ao mesmo tempo, podendo escolher como vivenciar cada coisa que me for destinada. A submissão e o poder juntos, inseparáveis.
Vivo o contato com a morte próxima, não a minha, que possivelmente ainda tardará. Entretanto, sempre remete a ela. Não a morte como o fim, a interrupção, mas como expansão, continuidade. Fico bem perto de minha mãe, talvez para absorver todos os conhecimentos que ela adquire a cada dia, agora que está no umbral, no portal para o outro lado. Não descuido de atentar para a restrição que vem junto, para as suas limitações cada vez maiores, que impõem maior vigilância, aceitação e trabalhos. Observo de perto o declinar do corpo, a deterioração das funções, o desgaste dos tecidos. Sofro pelo demasiado apego e apreço pelo corpo físico, mas consigo vislumbrar a libertação crescente da alma que vai ganhando mais leveza até, finalmente, conseguir alçar o voo.
Todo esse processo é carregado de detalhes, de aprendizados, de possibilidades de experimentar outras realidades.
Vivo uma saudade que é a presença sem corporificação, como uma possessão, em que somos tomados pelo que não podemos ver ou tocar, mas sentimos a presença, quando estamos abertos para poder canalizar, ao invés de concordar em sermos simplesmente afastados para que outro se manifeste em nós. A saudade é, contudo, uma canalização consciente. É algo que nos toma, que sentimos, mas que, se mais conscientes, conseguimos perceber como representação de outro alguém. Vivo a saudade de um amor que ainda sinto. Não do amor em toda a sua expressão como era antes, mas o amor pela pessoa, pela alma da pessoa, a vontade de compartilhar minha vida com ela, a vontade de ver, de conversar, de abraçar, dizer que sinto um enorme carinho por ela, que me preocupo, que a admiro, que sinto falta de sua companhia. Penso que ela deveria saber disso e imagino como. Sei que apesar de não nos falarmos há mais de um ano, nossas almas se encontram e conversam. Sei que ainda mantemos um vínculo que só o amor permite. Entretanto, avalio a cada momento, se isso deveria acontecer de fato. Opto por esperar que ela tenha condições de se aproximar, que busque o contato comigo outra vez. Mas não deixo de temer que por rigidez, medo, orgulho, sei lá o quê, ela nos prive dessa possibilidade tão frutífera e maravilhosa.
Vivo, nesse momento, um amor concretizado, o grande amor dessa minha existência (e de tantas, quem sabe, de todas), uma espera que se acabou. Eu me emociono só de pensar nele, de viver esse amor todos os dias, de perceber tudo que nos liga. A cada passo, eu avalio se vivo essa relação com o respeito, o cuidado, a dedicação, a consciência que merece. Às vezes, me sinto negligenciando, me acomodando ao curso dos acontecimentos, deixando, de novo, tudo nas mãos do destino. Mas, vejo que não, que estou ali todo o tempo, que se não posso me dedicar como gostaria, eu percebo isso e quero mudar a situação. Se não posso naquele momento, eu compreendo a limitação que temos para viver as coisas mais importantes de nossa vida, por incapacidade de nos dedicarmos mais a nós mesmos que aos outros. Compreendo e, ao mesmo tempo, tento me estruturar para tornar aquilo que desejo, que sinto como essencial, possível. E então percebo que caminhei, que não estou parada, tenho aprendido, evoluí.
Eu me relaciono com muitas pessoas, eu me dedico à família, eu busco a oportunidade de me direcionar, junto com o meu amor, para o trabalho mais importante de nossas vidas, mas sinto que o estágio atual é como uma preparação necessária para entrarmos num novo tempo, quando nossas energias se manifestarão de forma diversa da que têm hoje. É um tempo necessário e, se não nos fixarmos na frustração que acarreta essa aparente lentidão do momento, poderemos aproveitar melhor cada relação, cada fato da vida daqueles que nos cercam e teimam em fazer interseção com as nossas vidas por nossa permissão. É que, no fundo, percebemos como essas experiências de hoje na família, no trabalho, nas amizades, nos relacionamentos serão importantes amanhã, quando, com certeza, já teremos dado um salto quântico e estaremos prontos.
Dessa forma, meu momento atual é dúbio: é a luta pela sobrevivência num nível mais elevado, a sobrevivência do destino da alma, que expressei pela dança do sexo como símbolo de vida e a relação entre o predador e a caça trazendo o simbolismo da morte.
Ao final de tudo, vida e morte se confundem como sempre, se o olhar é mais amplo, se a consciência se alarga, se nos abrimos para o novo, se nos entregamos à vida para que ela nos possua e para que tenhamos o poder de ter a posse de nós mesmos. Isso é confiar na vida, na perfeição que existe em todas as coisas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Linha do Sol

Sobressair em meio aos experts
É como lançar areia no deserto
E brilhar sob intensa luz.

domingo, 21 de junho de 2009

Reflexão

Domingo, um dia em que geralmente os pais que trabalham fora podem estar junto de seus filhos, é um dia feliz para aqueles filhos que têm a sorte de possuir pais normais e bons.
Ontem os telejornais mostravam a babá acusada de tentar afogar o menino do qual era encarregada de cuidar e a menina austríaca que morreu vitimada por agressões da tia responsável por ela e por um irmão mais velho.
Estes crimes hediondos se repetem e faço a seguinte reflexão: domingo pode ser um dia de agradecer, pedir bênçãos, proteção, incentivo e sorte para aquelas babás, cuidadores, médicos, professores, funcionários de estabelecimento de ensino, saúde e creches que, na ausência dos pais tomam conta dos seus filhos com responsabilidade, carinho, paciência e, sobretudo, alegria.

Urubus

Manhã fria no asfalto...
Corpos enregelados, amontoados
nas calçadas frias e sujas.
Paisagem fria da cidade que acorda.
Trabalhadores rumam para as obras do PAC
em frios uniformes azuis,
robotizados, enganam os estômagos frios
com café quente nos bares das esquinas.
Crianças com blusas cor de laranja,
sonolentas, puxadas pela mão seguem para a LBV
pela longa estrada, atrás de mães disformes,
tentando vencer a sina dos dias duros e frios.
Restos do dia anterior abundam nas calçadas.
Restos humanos dormem no lixo;
fazem fogo perto da caçamba
e fumam guimbas que aquecem,
roubando o último fôlego.
Dois cavalos esquálidos descansam no muro da SUIPA.
No alto do prédio da igreja de crentes,
doze urubus pretos observam, se movimentam
e aguardam, na laje, o banquete.
Nesse recorte da comunidade, com carniça e podridão,
como no Planalto, os abutres agrupados confabulam...
Esperam para devorar o que restará dos homens de bem.

Estou Lendo...

Corpos da Alma, de Chris Griscom.

sábado, 20 de junho de 2009

Deixei a Vida me Levar

Encontro-me sem energia, sem disposição para estudar, não saio do quarto, a não ser que seja obrigado por alguma tarefa a realizar. Sou um adulto jovem, tenho três filhos e estou desempregado. Refleti demoradamente sobre minha situação atual e percebo que ela é decorrente de anos de escolhas inadequadas. Acho que passei a minha vida me enganando. Sim, porque acreditei que as outras pessoas iriam fazer aquilo que eu esperava delas e isto não aconteceu. Agora eu estou certo de que não nasci para ser um provedor, para dedicar a minha vida a viabilizar a vida de outras pessoas, a possibilitar o desenvolvimento dos filhos. Mas, na verdade, as pessoas não me enganaram, eu é que esperei demais delas. E como eu escolhi fazer o que realmente não queria e não tinha a menor vocação, nada deu certo. Eu me sinto um fracassado. E o pior é que depois de tudo que fiz pelos meus filhos, que hoje já são dois adultos e um adolescente, recebo deles a cobrança por ter deixado de suprir suas necessidades por força das circunstâncias. E tento, desesperadamente, conseguir uma boa colocação no mercado para voltar a corresponder às suas expectativas e de minha esposa, estudando (ou melhor, querendo e não conseguindo estudar) para concursos públicos. Só que não nasci para esta vida, não é o tipo de trabalho que quero fazer, meu sonho está em outro lugar. E, como me empenho por algo que não me motiva, não tenho energia para fazê-lo. Estou em depressão, que se arrasta por muitos meses, depois de muitos anos em que me irritei continuamente e vivi em brigas eternas com minha esposa, que pensa de forma bem diferente de mim. O fato é que tenho agido dentro das expectativas dela. E enquanto ela está realizada com a vida que vem levando, diferente da que me fez acreditar que gostaria de viver ao meu lado, eu sou só frustração. Agora entendo que não posso continuar nesse caminho, porque na verdade, já parei. Preciso fazer mudanças em minha vida, profundas transformações. Estou vivendo, há muitos anos, o que escolheram que eu vivesse, não o que eu próprio escolhi. Estou tão perdido ainda...
Acho que acabei de encontrar um caminho. Sei agora um pouco mais sobre mim mesmo. Falta ainda iniciar a jornada com outro rumo.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Charada

Esta charada foi feita pra criança,
De tão facilzinha que ela é.
Mas se quiser entrar na dança,
É só tentar descobrir o que é.

Eu dou emprego ainda a muita gente.
Há quem não consiga pensar sem mim.
Durante o trabalho, sou motivo para encontros,
Jogar conversa fora, paqueras e afins.

Não sou preconceituoso,
Acompanho coisa à beça.
O fato é que sou tão gostoso...
Por mim, sempre alguém se interessa.

O meu perfume é inconfundível,
Uns seguem até descobrir de onde venho.
Mas tenho múltiplas personalidades,
Me aceitam fraco, forte e posso ser veneno.

Desperto, levanto até os desfalecidos.
Pareço inofensivo, mas posso viciar.
Nesse caso deixo o fulano irritadiço,
Com insônia e tremendo sem parar.

Eu sou aquele que aquece nos dias frios.
Mas também posso ser um preto de amargar.
Depois daquele pileque com estômago vazio,
Só eu mesmo é que consigo lhe acordar.

A minha companhia mais frequente,
Talvez seja meu jeito mais saboroso,
Que na História do Brasil se fez presente,
É com o que a mãe dá de mais precioso.

E aí? Se depois de tanta dica,
Não sabe ainda, é mané.
Então vou mandar a última:
ESSA COISA PRETA RIMA COM CHULÉ.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Juventude

A juventude traz natural ousadia que só não se constitui em defeito porque as feridas que provoca curamos rápido no início da vida.

Células-tronco

O Vaticano posiciona-se contra o aborto e as pesquisas com células-tronco, afirmando ser pró-vida, ao contrário daqueles que admitem as duas práticas que se intitulam pró-escolha. A Igreja ainda hoje mantém a mesma rigidez que beira a ignorância com pontos de vista cristalizados e restritivos. Em relação ao aborto, há polêmicas infindáveis e cada fileira defende sua opinião com argumentos que para eles são irrefutáveis e acredito que esta contenda se mantenha ainda por muito tempo. Quanto às pesquisas com células-tronco, a posição retrógrada do Vaticano é ainda mais estarrecedora, já que se usam embriões que seriam de qualquer forma desprezados, para estudos que têm como objetivo exatamente a vida. Como pode haver pessoas que se posicionam contra o progresso da ciência? As pesquisas visam melhorar as condições de vida dos homens, curar doenças que dizimam as populações e evitar o envelhecimento precoce. Por isto, penso mesmo que a ignorância é a base desta posição. Mas é aquela ignorância teimosa, absurda, de não querer mesmo ter acesso às informações, porque elas contrariam pontos de vista arraigados e intransponíveis. Penso que tudo deve estar disponível para todos, para que então cada um possa fazer suas escolhas, de acordo com suas necessidades e consciência. É preciso avançar sempre, em todos os setores da vida. Entretanto, entendo que melhorar a saúde não é questão somente de possibilidade de “substituição de peças” do corpo humano. As doenças com falências de órgãos e sistemas e o envelhecimento têm a função de mostrar ao homem os seus limites, a finitude de sua própria vida, para que aprenda a cuidar dela, preservá-la, usufruí-la melhor todos os dias. E a aspiração à imortalidade e a inexistência de doenças constituem um estágio em que o homem só poderá alcançar, na medida em que amplie sua consciência e descubra o seu potencial, a sua espiritualidade e que possa vivê-la plenamente.

Como Traduzo o Credo

Mostra o que é a vida do homem, qual a sua trajetória na experiência de vida material. É preciso crer firmemente em determinados princípios para passar bem por esta vida. Mostra que o homem, assim como Cristo, foi concebido pelo poder da luz (do Espírito Santo), nasceu da Virgem Maria, da mãe terrena e há de padecer porque para evoluir terá que passar por provas que ele mesmo escolheu ou ajudou a escolher para si na hora de descer à Terra. Na hora da dor o homem precisa aceitar a morte, a aniquilação, se entregar à dor até o fim, quando morre e desce à mansão dos mortos, o reino de Hades, que é a forma de aprofundar, de entender o sentido da prova e só então ressuscitar, voltar renovado tendo aprendido e estando apto agora, a julgar os vivos e os mortos, ou seja, não mais será preciso passar pela experiência, já tendo alcançado a iluminação, vivendo em estado de beatitude, escapando da roda de morte/renascimento. No final resume tudo dizendo no que é preciso acreditar: no Espírito Santo (a luz, a parte espiritual, o Absoluto), a Santa Igreja Católica (representa uma religião qualquer que é simplesmente um sistema de crenças, uma forma como cada um vive a sua espiritualidade), a comunhão dos santos (mostra a natureza ilimitada da mente que acontece no estado de meditação), a remissão dos pecados (o valor de aprender com a experiência apagando o pecado e a culpa), a ressurreição da carne (a reencarnação) e a vida eterna (a sobrevivência da consciência à morte).

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Como Traduzo o Pai Nosso

Essa oração nos lembra que para vivermos plenamente a vida material e tirarmos dela o que de valor ela possui, que é a experiência, é preciso estar imbuído da certeza de que estamos numa experiência corpórea, de vida material, mas somos seres espirituais, eternos. Somos centelha do Absoluto. Daí que pedimos que Ele que está no céu venha a nós e também o reino dos céus venha a nós. Isso quer dizer reconhecer a nossa espiritualidade. Se é isso o que fazemos, então temos a aceitação (aceitar que seja feita a vontade de Deus assim na terra como no céu, aceitar as leis naturais). Assim, sabemos que temos que viver o momento presente e não a nostalgia do passado ou a angústia do futuro (o pão nosso de cada dia nos dai hoje). Pedimos que perdoe os nossos pecados assim como perdoamos a quem nos tenha ofendido. Com isso propõe um olhar de relatividade, trocando de lugar com o semelhante para que possa avaliá-lo e perdoá-lo. Fazendo isto, exercitando assim, poderemos esperar que também nossas atitudes sejam dessa forma julgadas por Deus. Perdoar aos outros e a nós próprios, valorizando que o importante é o aprendizado. Virão sempre as escolhas. Se escolhemos bem, acertamos e então mostramos que já sabemos aquilo. Se escolhemos mal, erramos e, caso reconheçamos o erro, também estaremos aprendendo, nos perdoando por ter errado e evoluindo. Pedimos que não nos deixe cair em tentação que é enxergar o mundo material sem considerar que somos seres de luz. O material por si só pode representar o mal, porém se vivido com consciência de que é apenas um campo de experiência para que se manifeste o espiritual, poderá representar o bem. Esta oração é um lembrete para ter a consciência do mundo espiritual durante toda a nossa existência, o que nos mantém no aqui e agora, aumentando o nosso poder pessoal. Também nos incita a exercitar o perdão e nos capacita a escapar das tentações, nos livrando do mal. E quando dizemos “seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, esperamos aceitar, ter fé, nos entregar ao destino e ao mesmo tempo exercer o nosso livre-arbítrio, aceitando aquilo que não pode ser mudado, mudando o que é possível mudar e tendo a capacidade de discernir entre as duas situações.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Como Traduzo a Ave Maria

Vejo, nessa oração, o reconhecimento de nossa parte divina, imortal, o contato com o absoluto. Isso é feito através de uma figura feminina, como a forma mais fácil de desenvolver a espiritualidade ao contactar sua porção feminina, o lado receptivo. Ao abrigar em seu ventre Jesus, filho de Deus, ela une em si o mortal e o imortal, o contato do homem com Deus. Por isto ela está cheia de graça e o Senhor está com ela, ela é bendita entre as mulheres (quando fazemos a religação com nossa parte divina). Jesus veio salvar os homens do mundo da polaridade. Rogamos à Santa Maria que rogue ao Senhor por nós, os pecadores (o pecado é entrar no mundo das polaridades, da relatividade, sair do absoluto), agora e na hora da nossa morte. A morte representa voltar ao domínio do Absoluto, se reconciliar com Deus, voltar à fonte.

Criando Prosperidade

Criando Prosperidade: a consciência da fartura no campo de todas as possibilidades - Deepak Chopra

Em essência, este livro mostra como a atenção faz com que algo se materialize no campo da realidade espaço-tempo a partir de um evento no campo das possibilidades. Tudo a que damos atenção cresce. A partir de um pensamento (onda) surge um neuropeptídio (matéria) em nosso próprio corpo. Assim embaixo conforme em cima. Mostra como podemos fazer mágica, isto é, transformar o invisível no visível, já que tudo no universo é inteligência. O campo das possibilidades é a porção divina que existe em todos nós. Se atuamos nesse campo, isto é, se nos voltamos para dentro e nos conectamos com a luz, com o Deus em nós, somos capazes de tudo. As qualidades desse campo são: é o potencial das leis naturais, tem infinito poder de organização, está plenamente desperto, faz correlação infinita com tudo, mostra perfeita organização, tem infinito dinamismo, tem criatividade infinita, é campo de puro conhecimento, é ilimitado, está em perfeito equilíbrio, tem auto-suficiência, é o campo de todas as possibilidades, é campo de infinito silêncio, é harmonizador, é evolutivo, tem auto-referência, tem invencibilidade, tem imortalidade, é manifesto, é nutriente, é integrador, tem simplicidade, é purificador, é campo de total liberdade, é campo de bem-aventurança (amor).
Para criar a prosperidade precisamos apenas ter conhecimento dos passos para chegar a ela, só ter essa consciência , sem esforço ou tensão para praticá-la racionalmente.
- Partir da fonte, atuar no campo de todas as possibilidades, o absoluto.
- Ser sempre melhor, querer o melhor.
- Ter desprendimento e caridade.
- Respeitar a oferta e a procura. Pensar: como posso servir?
- Esperar o melhor.
- A semente do sucesso no fracasso, sempre o aperfeiçoamento.
- Entender a manifestação dos desejos. Saber que se deve entrar no campo; afirmar a intenção, a meta de forma clara; desligar-se do objetivo e deixar o universo agir nos detalhes para concretizar o desejo.
- Querer felicidade para todos.
- Ter decisão e intenção.
- Não julgar. Estar no vão entre os pensamentos.
- Usar o poder organizador do conhecimento, ter nova percepção.
- Ter amor e buscar o luxo.
- Motivar os outros.
- Afastar a negatividade, pular para outro pensamento.
- Aceitar as polaridades, a coexistência dos opostos, para se permitir a criatividade, silenciando o diálogo interior.
- Saber qual o nosso propósito na vida (dharma).
- Questionar os dogmas, ideologias, autoridades externas, sair do condicionamento social, ouvir a si mesmo.
- Saber dar e receber não só coisas materiais.
- Fazer a riqueza circular.
- Praticar a transcendência e atemporalidade (fazer contato com o eu interior, estar no vão, ouvir a intuição, não pensar, sentir).
- Consciência da unidade por trás da diversidade, tudo ligado em teia.
- Prestar atenção aos valores, evitando o caos e a confusão.
- Ter riqueza sem a preocupação com ela.
- Ter gratidão pelo que já tem.
- Ter o vigor juvenil, identificar-se com o eu interior.
- Ter gosto pela vida, estar no momento presente e saber que tudo é perfeito.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Charada

Quem conta comigo nunca fraqueja.
Sou eu quem o sustenta na desilusão.
Ando de braços dados com quem confia.
Empresto força aos que não têm pão.

Uma lembrança das crianças de outrora,
Um ser que hoje quase não se vê,
Um inseto em pose de quem ora,
Preciso dizer mais pra quê?

Quem me desconhece se deprime.
Sou o alento quando o pior ocorre.
Afinal não é o que sempre dizem:
Que eu sou a última que morre?

A Arte de Ser (Aline)

Durante anos, em minha vida, eu convivi com um espírito responsável e altruísta. Sempre afoito com o seu cotidiano, aflito com a tarefa de prover a boa ordem, irrequieto, mas fiel à composição dos painéis, dos vidros, das escamas e das relações.
Eu observava as superfícies reluzentes, as paredes alvas e das mãos muito limpas, extirpada a beleza que é fornecida pelo caos. Eu perscrutei, e não encontrei frestas no ego hermético, empertigado, doce e lúcido.
Mas eis que com o auxílio do temperamento plácido da gradação, o teto da cabana quer ruir. Os muros descobrem a dança, os cômodos se travestem com texturas excêntricas, inventam tessituras, gestam hálitos e sabores coloridos.
As formas geométricas são as primeiras a dobrarem o corredor. O violeta frio nos lampejos, as telas pequenas e tímidas.
E o olhar do espírito se desvia, cria, na matéria e na fantasia, as rotas alternativas, os abismos gélidos e as escarpas sinuosas.
As torrentes de calor e do laranja se apropriam da expressão, em forma de ciranda, de deserto e de travessias tropicais.
Os quadrados se arredondam, se deparam com a perfeição do réprobo. Os pincéis se esgotam com a destreza dos dedos. A inspiração torrencial satura os seus veículos: a caldeira transborda.
Céus, faunas e floras se misturam à noite, aos sóis, à neve e ao marítimo. A espátula constrói naus, passageiros e valsas no convés. As rachaduras despontam com os cães azuis fantasmáticos: as linhagens de cérberos esparsas pelo inconsciente, cada cabeça abocanhando um destino.
A verdejância de pepinos bem americanos dentro de um cândido celeste.
O espírito, talvez, não se reconheça nesse ato. Talvez duvide da realidade das mãos brancas e calejadas.
As tarefas se desmembram e se abrigam no irrisório.
A pulsação é mais vívida. E como comprovação máxima para esse espírito racional e telúrico, o prestidigitador da existência se enlaça à Energia, e a velocidade traz o amor, com seu suporte e sua expansão.
Então nascem olhos luminescentes de Febo nos núcleos das margaridas. E no centro da Terra, as sacerdotisas velam a Deusa-mãe.
Os Xamãs enlaçam o vento e golpeiam a tempestade. Os curandeiros tremem e explodem em lilás.
Eu, um espectador assombrado e atônito, crescendo e assistindo à maturação.
As gargantas profundas abarcam as dores, a entrega e a grandeza do retorno. As Iabás desfalecidas, nas areias, encantam os passantes; fazem feitiços e sopram o pó mágico da transcendência sobre os olhares duros.
O clã dos espíritos também se aquece e se auto-permite. Migra de encontro ao calor. Atravessa túneis e acende lamparinas.
As maçãs cor-de-rosa narram os romances, a tragédia e o final feliz. As pétalas se eximem do engajamento, na unidade da flor. O firmamento afasta as cortinas, e o que se vê é um sistema só de sóis e de luz pura. O ventre da Grande Mãe nutre falos, fantasmas e bolas de fogo. Pavões bebericam, curvados sobre o lago, e nasce o Penacho.
Esse espírito vive dentro de Alba, que espera, pinta, teme, treme e ama. É a noviça que alcançou o desfecho físico do Mundo, e com um pé na terra e outro no nada, tomou a flauta de Hermes e invocou as brumas; entrou na canoa, transpôs as águas e chegou à Ilha, à imensidão do ser.

Radiestesia

Radiestesia Médica Fácil y Práctica - Profesor D’Arbó
A Ciência e a Arte do Pêndulo - Gabriele Blackburn

São dois livros bem interessantes que falam sobre a aplicação da radiestesia na medicina. O primeiro é mais completo, mostrando os vários campos de aplicação dessa ciência, os fundamentos e as técnicas. O segundo enfoca principalmente o uso do pêndulo no diagnóstico e cura. A leitura de ambos nos permite aprender a utilizar a radiestesia e deixa claro que esse trabalho é uma forma de manifestação psíquica onde o pêndulo auxilia a expressar a capacidade sensitiva do radiestesista, através das alterações no seu sistema neuromuscular que vão produzir o movimento do pêndulo.

domingo, 14 de junho de 2009

Domingo sem Segunda-feira

É um dia colorido que convida
A viver de tudo um pouco de bom
É liberdade, vontade de fazer visita,
De ir à praia, tomar chopp, ver televisão,
De conversar, ler, ir ao teatro,
De rir, fazer esporte e amar de montão.
Às vezes estudar, preparar trabalho atrasado,
Mas essas coisas, restos da semana, isso é nada bom.

Hoje o domingo é bem diferente.
Faço o que dá vontade, sem pressão,
Sem a pressa, pra que o dia não se acabe logo,
Sem aquele sentimento de fim de tarde no Leblon.
É que estou de férias no trabalho,
Livre como um passarinho e sem tensão,
Voo pelos bons momentos de minha vida hoje,
Amanhã acordo tarde, fico em casa, não é segunda-feira não.

Saudade - Clarice Lispector

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

sábado, 13 de junho de 2009

Feliz Aniversário, Angela

Você nasceu em dia de grande festa que, tradicionalmente, começa no dia anterior, quando o amor é comemorado e a madrugada é tempo de fazer promessas, brincadeiras e de colocar a imaginação para funcionar...
Assim é que traz a alegria e a jovialidade em sua essência. Quando é possível expressá-la é dessa forma que você se apresenta: leve, alegre e jovem. Tem uma leveza que contagia. Está sempre pronta para comemorar alguma coisa e fica feliz se alguém está vivendo, com projetos ou falando sobre bons momentos que experimentou. Os seus olhos brilham quando lhe mostram fotos de viagens, de festas e comemora junto as realizações dos amigos. Adora estar com as pessoas, dançar, viajar.
Talvez por isso se chame Angela, tem uma alma boa, é pura e cheia de alegria, sempre que se permite ser sua essência.
No trabalho, é séria e incansável. Em tantos anos de convivência, vejo que continua a mesma, não para de procurar o que fazer, sempre correndo e um pouco estressada. Tem o estresse das pessoas responsáveis. Acho que cuida dos colegas de trabalho como faz com seus filhos, sempre presente e tomando conta para que dêem o melhor de si, senão ela briga. É perfeita na sua função, seus diagnósticos são acurados e continua estudando sempre e preocupada em não deixar passar nenhum detalhe nos seus laudos. É precavida ao extremo quando se trata de diagnóstico, sempre utilizando todos os recursos disponíveis (por desencargo de consciência). Para mim, é referência e exemplo no trabalho e grande amiga que compartilha comigo o gosto pelas artes, em especial música e literatura.
Que o seu aniversário seja um dia de muita festa, onde todos comemorem com grande alegria, a oportunidade especial de ter em suas vidas uma pessoa tão sensível, valorosa, amiga e companheira, em todos os momentos.
Parabéns! Felicidades! Muitos abraços e beijos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Enamorados

Como é bom continuar vivendo os dias
Como antes de você ser meu bem-querer.
Quando seu rosto que ainda não conhecia
Surgia nos meus sonhos em cada noite
Sorrindo com aquele brilho no olhar doce
Que eu reconheceria depois de tanta espera.

Quando enfim você chegou concretizando
Todos os meus desejos de relacionamento ideal,
Fazendo dos meus dias uma felicidade perene,
Tive medo que de tanto amor,
O coração não suportasse se um dia a chama
Cedesse lugar ao sentimento morno da certeza.

Mas o tempo passou, passou a saudade, ficou você
Harmonizando a paisagem, colorindo meus dias,
Sendo muito mais do que eu esperava,
Fazendo de mim mais do que eu poderia ser,
Mostrando que se o amor é de verdade,
O fogo da paixão nunca deixará de arder.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

As Sete Leis Espirituais do Sucesso

As Sete Leis Espirituais do Sucesso: um guia prático para a realização dos seus sonhos - Deepak Chopra

Discorre sobre sete leis espirituais que se respeitadas nos levam ao sucesso e mostra que são leis espirituais da vida. O objetivo do livro é chamar os leitores para entenderem e aplicarem estas leis no dia a dia e estimularem outras pessoas a fazer o mesmo, criando inclusive redes de atuação no mundo.
As sete leis são: lei da potencialidade pura, lei da doação, lei do carma, lei do mínimo esforço, lei da intenção e do desejo, lei do distanciamento e lei do darma ou propósito de vida.
São todas leis muito simples, mas que na prática, quase sempre são negligenciadas ou mal compreendidas. É importante entender que essas leis são seguidas na natureza, em todos os processos de criação. Conhecendo-as, estaremos em harmonia com a natureza, podendo ser criadores da realidade que nos cerca, sem ansiedade, com alegria e amor.
Lei é o processo como o não manifesto se transforma em manifesto.
Tudo que existe, tudo o que contemplamos vem do campo da potencialidade pura, que é o não manifesto, a divindade, o Eu, a consciência.É o invisível, o desconhecido. A partir daí, origina o manifesto. É o visível, o conhecido. Na verdade, estas seriam as leis físicas do universo, como uma dança, o movimento da divindade, da consciência.

Lei da potencialidade pura - Diz que se nos alinharmos com o Eu, o campo quântico, da potencialidade pura podemos criar uma nova realidade. Isto é criatividade. Mas para isto teremos de abandonar a objeto-referência e passarmos para a auto-referência, saber quem realmente somos: seres espirituais, ilimitados. Ajuda ficarmos em silêncio por pelo menos trinta minutos, duas vezes ao dia, entrarmos em contato com a natureza e praticarmos o não julgamento.
Lei da doação - Orienta a criar fluxo,dar e receber todos os dias, agradecer às dádivas da vida, estar aberto a receber. Manter o fluxo dando carinho, amor e afeição. Desejar em silêncio alegria para todos.
Lei do carma - É lei de causa e efeito, mostra que colhemos o que plantamos e é bom ficar alerta para as escolhas que fazemos consciente ou inconscientemente. Trazer para a consciência, estar no presente. Antes de escolher, saber as consequências para si e para o mundo. Pedir ao coração a orientação nas escolhas de acordo com a sensação de conforto ou desconforto.
Lei do mínimo esforço-Saber que há inteligência em tudo na natureza, então tudo é perfeito e ocorre sem esforço, sem ansiedade. É o princípio da não resistência. Partir da aceitação (da certeza de que tudo e todos são como devem ser nesse momento), da responsabilidade e da indefensibilidade (não precisar defender pontos de vista).
Lei da intenção e do desejo - Depois de aceitar tudo como é no presente, fazer uma lista dos seus desejos e olhar sempre, colocando esta intenção no futuro, no campo de potencialidade e deixar que o universo organize e cuide de tudo.
Lei do distanciamento - Livrar-se dos condicionamentos do passado e abrir-se para o futuro desconhecido, estar nas mãos da mente criativa que rege o universo. Deixar tudo e todos serem como são, sem impor suas idéias. Aceitar a incerteza (possibilidades) e entrar no campo de potencialidade aberto à aventura, aos mistérios, à magia, à diversão.
Lei do darma ou propósito de vida - Saber que há em você uma divindade, prestar atenção ao espírito que não é limitado pelo tempo ou pelo espaço. Fazer uma lista dos talentos únicos e saber que quando os expressa cria abundância, perde a noção do tempo, tem alegria e deve colocá-los a serviço da humanidade, perguntar como deve servir, ajudar.

Essas leis se aplicam a todos os aspectos da vida, inclusive à saúde.

Escrever ao Sabor da Pena - Clarice Lispector

Esta frase me ficou na memória e nem sequer sei de onde ela veio. Para começar, não se usa mais pena. E depois, sobretudo, escrever à máquina, ou com o que seja, não é um sabor. Não, não, estou me referindo a procurar escrever bem: isso vem por si mesmo. Estou falando de procurar em si próprio a nebulosa que aos poucos se condensa, aos poucos se concretiza, ao poucos sobe à tona - até vir como num parto a primeira palavra que a exprima.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Conselho

Tente fazer do seu jeito, ainda que não tenha qualquer elogio. Fuja de repetir só para merecê-lo ou é um sujeito vazio.

Faço Minhas as Suas Palavras

Fui tomada de grande alívio ao ler um artigo escrito por uma patologista que foi editora da New England por vinte anos, para uma revista da Fiocruz de março deste ano (Radis 79, p. 30-33).
A corajosa médica denuncia um esquema de corrupção envolvendo a classe médica, com relação às pesquisas realizadas nos Estados Unidos, patrocinadas e manipuladas por grandes grupos farmacêuticos.
No importante e surpreendente artigo, são expostas diversas outras práticas de profissionais médicos (pesquisadores, professores, catedráticos) formadores de opinião que, vergonhosamente, por ganhos materiais de grandes proporções, colocam em risco a saúde das pessoas e a credibilidade e ética de outros médicos, pesquisadores e das publicações feitas por profissionais responsáveis e íntegros.
É impressionante a que ponto a classe médica se deixou corromper e prostituir, deixando qualquer idealismo virar coisa do passado.
Aqui no Brasil imagina-se, ou melhor, sabe-se que acontece o mesmo. E, se não existir vontade e coragem de pessoas incorruptíveis para reverter esta situação inaceitável, as consequências no futuro serão ainda mais desastrosas.
Em minha prática de 28 anos como patologista em dois grandes hospitais gerais do Rio de Janeiro (sendo a Anatomia Patológica uma especialidade médica que funciona como controle de qualidade) e como homeopata há 20 anos, com estudos aprofundados que me permitem uma abordagem holística do paciente, considerando a doença como guia no processo de aprimoramento do ser, tenho observado que a prática médica vem deteriorando progressivamente. E as pessoas, hoje, principalmente as que possuem planos de saúde, quase sempre são tratadas de forma compartimentada por profissionais despreparados que muitas vezes brincam de fazer ciência ou são exímios leitores de bulas farmacêuticas, enquanto deixam de raciocinar clinicamente sobre os sintomas, tratando apenas de suprimi-los sem antes buscar a mensagem que trazem e permitir a sua integração pela pessoa doente.
Assim, proliferam agora os “novos” diagnósticos de patologias já conhecidas que trocam de nome e passam, mesmo se forem problemas simples ou variações da normalidade, a requerer tratamento com drogas potentes, com efeitos colaterais cada vez maiores. O referido artigo destaca o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtorno bipolar em crianças, depressões, transtorno de fobia social (timidez) como alguns diagnósticos muito frequentes hoje, baseados em interpretações de sintomas que tentam adequar os pacientes aos diagnósticos pretendidos e que têm levado profissionais desavisados, ignorantes e/ou mal intencionados a prescreverem cada vez mais medicamentos, mais potentes e perigosos, muitas vezes sem necessidade.
Se a corrupção está à solta, se a ética desapareceu, se a consciência dos profissionais deixou de prevalecer, o que fazer?
Penso que é simples: pesquisas, informações, novidades devem servir aos profissionais como base de estudo e reflexão para que daí cada profissional estruture a sua prática, que deve ser calcada sobretudo na observação do paciente: na escuta atenciosa do que ele relata, em relação ao que sente e percebe em si e como evoluem os sintomas, como o seu organismo reage e como o tratamento medicamentoso atua sobre ele. Acho que também é preciso dar tempo ao corpo para reagir, evitando intervenções medicamentosas desnecessárias e prejudiciais.
Outro ponto importante que foi levantado diz respeito às “novas descobertas” na área médica veiculadas pela mídia (vide Fantástico) e que desencadeiam verdadeira neurose em pacientes, seus responsáveis e mesmo em terapeutas, no sentido de fazer diagnósticos e instituir tratamentos. Hoje é bastante comum que pais tragam seus filhos ao médico, pedindo que ele solicite exames que eles, os pais, enumeram, simplesmente porque ouviram falar sobre a necessidade deles serem realizados. Ocorre que essas práticas só proliferam em terreno propício, ou seja, junto a profissionais despreparados, inseguros, de egos insuflados e que, ainda por cima, acabam tirando vantagem da situação, com maiores lucros para as suas clínicas e ajudando a enriquecer as empresas de planos de saúde.
Mas tenho certeza de que nem tudo está perdido, já que o caos que existe hoje na saúde, com a incompetência dos governantes e o descompromisso da classe médica com a sua honra e a saúde dos pacientes, inevitavelmente levará as pessoas a concluírem que é imprescindível que cada um passe a se responsabilizar pela sua saúde, buscando informações e estando atento na hora de escolher o profissional que seja necessário para ajudá-lo, através de observação acurada da sua prática técnica, mas, sobretudo, da sua pessoa, que transparece em suas atitudes e postura. E que, acima de tudo, possam compreender que todos nós dispomos da capacidade de autocura que pode ser despertada com a focalização do Eu interior, através de práticas de meditação, por exemplo, ou simplesmente sabendo que temos esta capacidade e aprendendo a estimulá-la com a mente e esperar que se manifeste. É claro que, dependendo do grau de comprometimento e do caso clínico em questão, será necessário e de melhor indicação contar com ajuda profissional. Mas, nem sempre, esta é a regra.
Percebemos que as pessoas, atualmente, em sua maioria, vivem reféns do medo de adoecer, se desesperam, correm para buscar fora o que têm dentro como recursos de cura e, frequentemente, a evolução acaba sendo pior do que seria se deixada seguir normalmente, sem intervenção. Isto ocorre, comumente, nos casos de viroses, onde o uso indiscriminado de antibióticos é desastroso, só para citar um exemplo.
Dessa forma, eu me senti amparada nas minhas idéias e louvo a atitude de coragem, ética, responsabilidade, inteligência, abertura mental (acompanhando o desenvolvimento de novas descobertas em variados campos de estudo), profissionalismo e exercício de consciência dessa excelente médica.
Essa profissional se arrisca, denunciando que as pesquisas com medicamentos são dirigidas, gerenciadas pelas grandes empresas farmacêuticas, que conduzem as pesquisas, controlam a apresentação dos resultados, excluindo o que não lhes interessa que seja mostrado.
E aí? Dá para confiar nos resultados de pesquisas sobre as doenças e seus tratamentos? Os próprios profissionais poderão confiar nos efeitos prometidos de atuação das drogas, posologias e ausência de efeitos colaterais?
É mais prudente desconfiar sempre e basear sua prática naquilo que é tradicionalmente eficaz, sem deixar de acompanhar o progresso da ciência, mas só depois de deixar assentarem os modismos e separar com muita diligência o joio do trigo. Dessa forma prosseguem com ótimos resultados as Medicinas Tradicionais Chinesa e Indiana.

Escrever - Clarice Lispector

Não se faz uma frase. A frase nasce.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Escrever as Entrelinhas - Clarice Lispector

Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Autocrítica no Entanto Benévola - Clarice Lispector

Tem que ser benévola, porque se fosse aguda, isso talvez me fizesse nunca mais escrever. E eu quero escrever, algum dia talvez. Embora sentindo que se voltar a escrever, será de um modo diferente do meu antigo: diferente em quê? Não me interessa.
Minha autocrítica a certas coisas que escrevo, por exemplo, não importa no caso se boas ou más: mas falta a elas chegar àquele ponto em que a dor se mistura à profunda alegria e a alegria chega a ser dolorosa - pois esse ponto é o aguilhão da vida.
E tantas vezes não consegui o encontro máximo de um ser consigo mesmo, quando com espanto dizemos: “Ah!” Às vezes esse encontro comigo mesmo se consegue através do encontro de um ser com outro ser.
Não, eu não teria vergonha de dizer tão claramente que quero o máximo - e o máximo deve ser atingido e dito com a matemática perfeição da música ouvida e transposta para o profundo arrebatamento que sentimos. Não transposta, pois é a mesma coisa. Deve, eu sei que deve, haver um modo em mim de chegar a isso.
Às vezes sinto que esse modo eu o conseguiria através simplesmente de meu modo de ver, evoluindo. Uma vez senti, no entanto, que seria conseguido através da misericórdia. Não da misericórdia transformada em gentileza de alma. Mas da profunda misericórdia transformada em ação, mesmo que seja a ação das palavras. E assim como “Deus escreve direito por linhas tortas”, através de nossos erros correria o grande amor que seria a misericórdia.

domingo, 7 de junho de 2009

Sobre o que o Duelos Representa para Mim

O Duelos hoje representa um espaço importante onde posso me expressar falando sobre minhas observações do mundo em que vivemos, onde falo sobre minhas experiências de vida, como enxergo as pessoas, sobre o que elas me passam, apresento minhas reflexões sobre o caos urbano, a solidão, a busca crescente pela individualidade, o egoísmo, os fatos que nos causam indignação, a política, a economia, a desigualdade social e tantas outras coisas que diariamente passam pela minha cabeça.
Representa, ainda, a possibilidade de fazer ensaios em prosa e “poesia”, onde me aventuro de forma “irresponsável” nos haikais que, para mim, são um exercício gostoso e descompromissado da síntese do pensamento. Não tenho formação técnica, nunca fui muito chegada à literatura e nem tenho talento especial nesta área. Aproveito para me desculpar com meus eventuais leitores do Duelos por minha descompromissada e despretensiosa forma de escrever, em virtude da frequencia que considero mesmo exagerada dos meus textos (é que é muito bom escrever). Mas me lembro que este espaço, segundo sua descrição no blog, está aberto para amadores que gostam de escrever e que os que os acessam têm sempre a opção de não ler, pulando os textos de autores cujo estilo não os agradar (Felizmente! Isto diminui a minha culpa. rsrs).
Penso que, eventualmente, existam algumas pessoas que aproveitem meus textos para refletir sobre temas polêmicos, que usem as informações que passo e que se referem, principalmente, à minha área de atuação (saúde) e ainda que possam compartilhar de minhas opiniões nada convencionais.
Aproveito este blog, também, para homenagear os amigos e parentes em dias festivos e enviar votos para todos em datas comemorativas.
Visito o Duelos porque ele me presta um serviço importantíssimo (me perdoem, novamente, os eventuais leitores) quando me permite, através dos textos, extravasar minhas dores, dificuldades, questionamentos, exercitar o autoconhecimento escrevendo para mim mesma, partindo do princípio de que escrever é terapêutico.
Mas, representa, principalmente, o espaço onde continuamente aprendo sobre várias coisas e sobre o outro, com os demais autores e, sobretudo, me divirto muito. Adoro participar, tenho total liberdade, me sinto entre amigos.

Sobre Minha Participação no Duelos

Quando recebi o convite para participar do Duelos, aceitei porque se destinava também a amadores que gostassem de escrever com qualquer estilo, podendo se expressar de várias formas e com liberdade total.
A ideia inicial era que as pessoas escrevessem sobre um mesmo tema (e iam sendo criadas as categorias) para que se tivesse diferentes visões sobre cada um deles. Achei muito interessante e claro que quis participar.
Como trabalho há muitos anos na área de saúde, sempre gostei de escrever e fazia isto de forma terapêutica desde adolescente, com uma frequência maior nas passagens mais difíceis da minha vida, nos momentos de perdas, nas dúvidas, inquietações, desespero mesmo, no meu longo processo de autoconhecimento que se mantém até hoje.
Assim, reunia meus textos numa pastinha que não mostrava a ninguém (cruz credo!).
Quando surgiu o Duelos, fui aos poucos enviando estes textos, de acordo com a minha preferência pessoal, fora da ordem cronológica em que foram escritos.
Depois gostei da experiência, me assanhei e quase esgotei o conteúdo da pastinha, ao mesmo tempo em que, inspirada por outros autores, resolvi escrever outras coisas além de cartas para mim mesma.
Foi assim que misturei textos com informações sobre saúde e testemunhos de fatos que observo no dia a dia na rua, na família, no trabalho. E aí virou um verdadeiro caldeirão, onde muito me agrada exercitar a observação do que é humano, vivências de qualquer um de nós.
Concordo que naquilo que escrevemos deixamos inscrita a nossa essência, ainda que ela assuma diferentes roupagens.
Mas, afinal, não é só através das palavras; de muitas formas, para quem sabe decifrar, nos expomos no dia a dia. Admiro a coragem de quem também faz isto escrevendo.

Sobre a Participação de Outros Autores no Duelos

Leio quase diariamente todos os textos que são postados no Duelos, desde sua criação, em 02/12/2008, ainda no Terra. Tenho todo respeito ao fazer isto porque considero um ato de coragem quando cada um expõe sua sensibilidade, suas opiniões, crenças e reflexões livremente, correndo o risco de, às vezes, ser mal interpretado.
Entendo que cada um dos leitores tem afinidades maiores com alguns autores e tenho minhas preferências, embora admire o trabalho de todos. Existem os mais soltos, os mais graves, os profundos, os originalíssimos, os contundentes, os que nos divertem com seu humor afiadíssimo, os autobiográficos, os contadores de histórias e, ainda, os que misturam todas estas habilidades. Estão todos de parabéns: os que atuam com maestria e os amadores e sem qualquer pretensão no campo das letras. Entre estes eu me incluo, aproveitando esta participação para me tornar uma pessoa melhor.

sábado, 6 de junho de 2009

Charada

Deixo pegadas de sangue na trilha do tempo.
De início sou dor a dilacerar,
Depois um simples lamento.
Justifico a eterna presença do que feneceu.
Pois consolo na perda do amor que morreu.

Teço com os fios das lembranças,
A manta quente que agasalha,
Nos graves momentos de dor
Em que a falta do amor estraçalha
Trazendo o medo da mudança.

Às vezes sou o único remédio
Da relação que já virou tédio,
Porque contra mim não cabe argumento.
É melhor se render,
Quem comanda é o tempo.

Tantas vezes único consolo na terceira idade,
Ainda que isso pareça, da Vida, maldade.
Sou filha da perda e irmã do amor.
Gerada, inevitavelmente, por ela,
Dele, na distância, sou o elo mantenedor.

Atinjo pessoas de qualquer idade,
Pra mim não há limites se é amor de verdade.
Com os fios do tempo teço rede de proteção
Que minora o efeito de cair na realidade
De quem perdeu a razão de sua felicidade.

Sou o mata-borrão pro estrago
Das tintas da morte na tela da vida.
Cicatrizo, se é profunda a ferida,
Inevitável consequência
De uma paixão plenamente vivida.

Calar Verdade, Falar Mentira

Expressar o que se pensa realmente sobre determinada coisa nem sempre é simples, exceto para mentes simplórias. Sim, porque é fácil ser fiel à verdade quando se trata de relatar um fato, mas não se vamos opinar sobre alguma coisa. E, mesmo se descrevemos o fato, ainda assim, estaremos dando a nossa visão dele. É fácil dizer exatamente o que se pensa sobre algo, sendo fiel à sua verdade, quando não temos medo de emitir a nossa opinião e não nos importamos com as conseqüências das nossas palavras sobre o interlocutor. Entretanto, se estivermos atentos e formos responsáveis com o que sai da nossa boca, isso será, não raras vezes, bastante melindroso. Assim, a omissão, e mesmo a mentira, poderão ser recursos valiosos para tornar nossa atuação positiva em determinada situação. Nem sempre dizer a verdade a qualquer custo é o mais recomendável, ainda que seja o mais desejável. Mas, se fôssemos crianças para sempre, seria fácil. Só que amadurecemos e isto tem um preço, o de nem sempre poder ser sincero. Claro que para avaliar em cada situação o que deve ser dito de verdade, omitido ou mesmo falseado, deve-se ter ética, discernimento, domínio da situação, consciência. Porque no fundo, isto é manipulação e esta só pode ser bem feita por mentes inteligentes e íntegras. Logo, é perigoso ter esta flexibilidade, correndo-se o risco de ser maquiavélico, um manipulador do mal. É complicado ter esta abertura, é como ser político: ou é alguém suficientemente correto, capaz, ético e faz um ótimo trabalho ou é um imoral, corrupto e se torna um desastre nas suas ações. Numa situação de saúde, por exemplo, nem sempre ser verdadeiro com o paciente é a melhor atitude, podendo ser temerário e até mesmo uma covardia em algumas situações, se o resultado que se deseja é o bem do doente.
O fato é que escolher em cada situação entre a verdade e a mentira é como andar no fio da navalha. Fazer bom uso da mentira é recurso de mente inteligente. E, acrescido a isto, temos que a imaginação constitui um outro perigo, considerando que para mentes fantasiosas, aquilo que é imaginado é para elas, a mais pura verdade. Ou seja, verdade ou mentira é algo complexo em sua avaliação.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Os Homens e Suas Ideias

Homens frequentemente têm ideias.
Mas até que ponto tornam-se responsáveis por elas?
Quantas vezes deixam de fazer o que idealizam?
As ideias fazem os homens crescerem.
Elas são responsáveis pela evolução da humanidade.
Os homens fazem muitas coisas e têm, às vezes, poucas ideias.
Os homens têm muitas ideias e fazem muito pouco com elas.
Os homens são os responsáveis por aquilo que fazem, apesar das suas ideias.
Homens e ideias. O que fazem uns com os outros? São responsáveis?

Perdão

Sinto-me atordoada. Há tempos não saio de casa, exceto para o trabalho, percorrendo os mesmos lugares sempre. Vindo novamente a esse lugar, onde tantas vezes estive no passado, o percebo agora inteiramente diferente. As pessoas me assustam e caminho trêmula por estes corredores de gente que com suas auras esbarram na minha. Não sei se conseguirei voltar para casa sem me sentir tão exaurida, sugada nas minhas energias. Essa praça me traz a sensação de familiaridade, pois há exatos quatro anos, fazia parte do meu dia a dia. Agora, passando por aqui, penso que posso encontrar aquela pessoa que há tanto tempo eu espero ver, para tentar redimir a culpa que ainda sinto, mesmo sabendo que não se justifica. Tenho a impressão de estar perto de reencontrar o elo perdido. Só quero revê-la e tentar remediar, corrigir o que sem intenção eu causei. Parece que estou bem perto dela, embora não consiga encontrá-la. É como se seus radares internos pudessem captar a minha presença e, voluntariamente, fugisse de mim. Mas, talvez não a veja porque apenas sinta que está perto, que seja só a minha vontade a me impressionar. É como algo que ficou inacabado e não sai da nossa mente. Devemos cuidar de resolver na vida, todas as pendências do nosso coração. Mas, se é coração, pressupõe ligação e, consequentemente, outra pessoa envolvida. E aí é que a coisa degenera. Porque nem sempre o que é necessidade para nós atinge o outro da mesma forma. Questões que envolvem outra pessoa acabarão por ter que ser resolvidas dentro de nós mesmos.
A culpa é um entrave desnecessário na vida de qualquer pessoa, que efetivamente, não leva a nada, que só suga a nossa energia, faz doer e turva a mente, nos deixando num estado de estar sem estar ali, sempre, no lugar que se relaciona aos fatos que geraram esse sentimento limitante.
O que importa na verdade, é compreender os fatos, do nosso ponto de vista, vendo então onde acertamos e onde erramos, porque erramos, se naquele momento era só aquela opção que tínhamos ou se podíamos ter agido diferente. Em qualquer dos casos, terá sido o que conseguimos fazer. Devemos aceitar isto e nos perdoar, depois de reconhecer o erro e dessa forma, aprender com ele.
A outra pessoa não precisa nos redimir, ela terá condições de avaliar sozinha a questão e depois do tempo que for necessário para ela, também nos perdoar (ou não) e, principalmente, se perdoar por ter acreditado demais, de acordo com suas fantasias e desejos em relação a nós.
Eis a origem da traição. Na verdade, cada vítima de traição se trai a si próprio, por ter acreditado demais, às vezes seduzida pelo traidor em questão, às vezes pela própria fantasia.
De fato, os nossos acertos serão sempre apenas conosco mesmos.
Assim é que não era necessário para trabalhar esta questão, ter reencontrado aquela pessoa.
Foi tudo apenas impressão motivada pelo desejo de resolver essa culpa pendente e pela volta ao lugar que representava o elo com o passado.

Tocando em Frente - Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Contato com o Sagrado

Como anda a nossa relação com o sagrado? O que consideramos sagrado? Ultimamente tem sido imperioso fazer essa conexão. Porque, na verdade, estamos tão esvaziados daquilo que é transcendente que nem conseguimos alcançar esta dimensão do nosso ser. Quando o homem se rendia à natureza, louvava os deuses e ouvia a sua intuição, contava com recursos muito mais poderosos do que toda esta tecnologia que, hoje, algumas vezes lhe cria mais problemas do que facilita a sua vida. Ouso dizer que precisamos resgatar estes valores, viver o espiritual, o místico, o sagrado. Temos que nos dirigir ao ser de luz que realmente somos. Só assim será possível vencer os medos, derrubar as defesas que tanto nos impedem e desabrochar para viver a tão sonhada paz.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Responsabilidade

Os homens que são formadores de opinião, fazem com que suas ideias sejam responsáveis pela evolução do pensamento da comunidade.

Catavento de Meninos

Manhã fria na calçada imunda do Jacarezinho.
Amontoados, mijados, dormem meninos ao léu
Formando um catavento, deitados, tão sozinhos,
No ponto de ônibus, entre pessoas, debaixo do céu.

São pás sem cor, sem futuro. Só solidão, desamparo.
Aconchegam o rosto nas costas do companheiro
E as pernas no calor da bunda de outro desgraçado
Que com um outro compõe a roda do mesmo jeito.

Quando é madrugada, os corpos caídos são a figura
Do abandono da família e da omissão do governo.
Eles carecem de proteção e fogem da realidade dura
Pelas drogas que só aumentam o seu desespero.

Cataventos devem rodopiar e alegrar a quem passa.
Meninos precisam brincar, dormir em cama quente,
Comer, rir, estudar, de uma vida sem tanta desgraça...
Quem poderá lhes salvar, se quem deve está ausente?

Penso todo dia, quando por ali passo na condução:
Poderia, sem esforço, dos meninos cuidar do sustento,
Usando o que pago ao Leão todo mês, sem opção,
Trocando futura corrupção por coloridos cataventos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O Carrapato

Acordou ainda meio sonado e começou a se coçar.
Coça, coça, não consegue ficar quieto num lugar.
Rodopia pela sala, corre pro quarto também.
Não alcança, não descobre de onde o incômodo vem.
Nunca antes sentira aquilo. Era coisa de endoidar!
Como podia o coitadinho voltar a se aquietar?
É que fato como este não cabia no seu mundo.
Afinal era de estirpe e não um cão vagabundo.

Coça, coça, ele pulava, não parava de rodar.
Procurava no seu pelo, pelo que o ousava perturbar.
Lambia debaixo das patas, roçava o focinho no dorso.
Eis que de uma só investida expulsa o criminoso.
Diante de todos no pátio finalmente se liberta.
Jamais se deixaria sugar, explorar ou sofrer incertas.
Era cachorro de madame, acostumado a bons tratos.
Como admitir permanecer morada de um carrapato?

Imaginação

A imaginação é o vínculo mais íntimo com a alma.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Entardecer

Cai o véu da noite devagar...
Todo o burburinho do dia se cala.
O corpo cansado busca aconchego,
O olhar se dirige agora para dentro.

Cai em si o que procura...
Já não há como escapar do incômodo.
Está frente a frente com a verdade,
O seu estado depende apenas de si mesmo.

O entardecer é a consciência...
Nenhum brilho de fora disfarça a escuridão.
Ou existe luz e a tarde é acolhedora,
Ou nos resta iluminar nosso porão.

Terremoto em Honduras

Num terremoto
Parece que o mundo
Desequilibrou.

E tudo treme.
Coisas caem sem cessar,
Pavor vem do céu.

Como se manter
Íntegro na destruição?
Só ficando zen.