sábado, 6 de junho de 2009

Charada

Deixo pegadas de sangue na trilha do tempo.
De início sou dor a dilacerar,
Depois um simples lamento.
Justifico a eterna presença do que feneceu.
Pois consolo na perda do amor que morreu.

Teço com os fios das lembranças,
A manta quente que agasalha,
Nos graves momentos de dor
Em que a falta do amor estraçalha
Trazendo o medo da mudança.

Às vezes sou o único remédio
Da relação que já virou tédio,
Porque contra mim não cabe argumento.
É melhor se render,
Quem comanda é o tempo.

Tantas vezes único consolo na terceira idade,
Ainda que isso pareça, da Vida, maldade.
Sou filha da perda e irmã do amor.
Gerada, inevitavelmente, por ela,
Dele, na distância, sou o elo mantenedor.

Atinjo pessoas de qualquer idade,
Pra mim não há limites se é amor de verdade.
Com os fios do tempo teço rede de proteção
Que minora o efeito de cair na realidade
De quem perdeu a razão de sua felicidade.

Sou o mata-borrão pro estrago
Das tintas da morte na tela da vida.
Cicatrizo, se é profunda a ferida,
Inevitável consequência
De uma paixão plenamente vivida.

Calar Verdade, Falar Mentira

Expressar o que se pensa realmente sobre determinada coisa nem sempre é simples, exceto para mentes simplórias. Sim, porque é fácil ser fiel à verdade quando se trata de relatar um fato, mas não se vamos opinar sobre alguma coisa. E, mesmo se descrevemos o fato, ainda assim, estaremos dando a nossa visão dele. É fácil dizer exatamente o que se pensa sobre algo, sendo fiel à sua verdade, quando não temos medo de emitir a nossa opinião e não nos importamos com as conseqüências das nossas palavras sobre o interlocutor. Entretanto, se estivermos atentos e formos responsáveis com o que sai da nossa boca, isso será, não raras vezes, bastante melindroso. Assim, a omissão, e mesmo a mentira, poderão ser recursos valiosos para tornar nossa atuação positiva em determinada situação. Nem sempre dizer a verdade a qualquer custo é o mais recomendável, ainda que seja o mais desejável. Mas, se fôssemos crianças para sempre, seria fácil. Só que amadurecemos e isto tem um preço, o de nem sempre poder ser sincero. Claro que para avaliar em cada situação o que deve ser dito de verdade, omitido ou mesmo falseado, deve-se ter ética, discernimento, domínio da situação, consciência. Porque no fundo, isto é manipulação e esta só pode ser bem feita por mentes inteligentes e íntegras. Logo, é perigoso ter esta flexibilidade, correndo-se o risco de ser maquiavélico, um manipulador do mal. É complicado ter esta abertura, é como ser político: ou é alguém suficientemente correto, capaz, ético e faz um ótimo trabalho ou é um imoral, corrupto e se torna um desastre nas suas ações. Numa situação de saúde, por exemplo, nem sempre ser verdadeiro com o paciente é a melhor atitude, podendo ser temerário e até mesmo uma covardia em algumas situações, se o resultado que se deseja é o bem do doente.
O fato é que escolher em cada situação entre a verdade e a mentira é como andar no fio da navalha. Fazer bom uso da mentira é recurso de mente inteligente. E, acrescido a isto, temos que a imaginação constitui um outro perigo, considerando que para mentes fantasiosas, aquilo que é imaginado é para elas, a mais pura verdade. Ou seja, verdade ou mentira é algo complexo em sua avaliação.