quarta-feira, 10 de junho de 2009

Conselho

Tente fazer do seu jeito, ainda que não tenha qualquer elogio. Fuja de repetir só para merecê-lo ou é um sujeito vazio.

Faço Minhas as Suas Palavras

Fui tomada de grande alívio ao ler um artigo escrito por uma patologista que foi editora da New England por vinte anos, para uma revista da Fiocruz de março deste ano (Radis 79, p. 30-33).
A corajosa médica denuncia um esquema de corrupção envolvendo a classe médica, com relação às pesquisas realizadas nos Estados Unidos, patrocinadas e manipuladas por grandes grupos farmacêuticos.
No importante e surpreendente artigo, são expostas diversas outras práticas de profissionais médicos (pesquisadores, professores, catedráticos) formadores de opinião que, vergonhosamente, por ganhos materiais de grandes proporções, colocam em risco a saúde das pessoas e a credibilidade e ética de outros médicos, pesquisadores e das publicações feitas por profissionais responsáveis e íntegros.
É impressionante a que ponto a classe médica se deixou corromper e prostituir, deixando qualquer idealismo virar coisa do passado.
Aqui no Brasil imagina-se, ou melhor, sabe-se que acontece o mesmo. E, se não existir vontade e coragem de pessoas incorruptíveis para reverter esta situação inaceitável, as consequências no futuro serão ainda mais desastrosas.
Em minha prática de 28 anos como patologista em dois grandes hospitais gerais do Rio de Janeiro (sendo a Anatomia Patológica uma especialidade médica que funciona como controle de qualidade) e como homeopata há 20 anos, com estudos aprofundados que me permitem uma abordagem holística do paciente, considerando a doença como guia no processo de aprimoramento do ser, tenho observado que a prática médica vem deteriorando progressivamente. E as pessoas, hoje, principalmente as que possuem planos de saúde, quase sempre são tratadas de forma compartimentada por profissionais despreparados que muitas vezes brincam de fazer ciência ou são exímios leitores de bulas farmacêuticas, enquanto deixam de raciocinar clinicamente sobre os sintomas, tratando apenas de suprimi-los sem antes buscar a mensagem que trazem e permitir a sua integração pela pessoa doente.
Assim, proliferam agora os “novos” diagnósticos de patologias já conhecidas que trocam de nome e passam, mesmo se forem problemas simples ou variações da normalidade, a requerer tratamento com drogas potentes, com efeitos colaterais cada vez maiores. O referido artigo destaca o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtorno bipolar em crianças, depressões, transtorno de fobia social (timidez) como alguns diagnósticos muito frequentes hoje, baseados em interpretações de sintomas que tentam adequar os pacientes aos diagnósticos pretendidos e que têm levado profissionais desavisados, ignorantes e/ou mal intencionados a prescreverem cada vez mais medicamentos, mais potentes e perigosos, muitas vezes sem necessidade.
Se a corrupção está à solta, se a ética desapareceu, se a consciência dos profissionais deixou de prevalecer, o que fazer?
Penso que é simples: pesquisas, informações, novidades devem servir aos profissionais como base de estudo e reflexão para que daí cada profissional estruture a sua prática, que deve ser calcada sobretudo na observação do paciente: na escuta atenciosa do que ele relata, em relação ao que sente e percebe em si e como evoluem os sintomas, como o seu organismo reage e como o tratamento medicamentoso atua sobre ele. Acho que também é preciso dar tempo ao corpo para reagir, evitando intervenções medicamentosas desnecessárias e prejudiciais.
Outro ponto importante que foi levantado diz respeito às “novas descobertas” na área médica veiculadas pela mídia (vide Fantástico) e que desencadeiam verdadeira neurose em pacientes, seus responsáveis e mesmo em terapeutas, no sentido de fazer diagnósticos e instituir tratamentos. Hoje é bastante comum que pais tragam seus filhos ao médico, pedindo que ele solicite exames que eles, os pais, enumeram, simplesmente porque ouviram falar sobre a necessidade deles serem realizados. Ocorre que essas práticas só proliferam em terreno propício, ou seja, junto a profissionais despreparados, inseguros, de egos insuflados e que, ainda por cima, acabam tirando vantagem da situação, com maiores lucros para as suas clínicas e ajudando a enriquecer as empresas de planos de saúde.
Mas tenho certeza de que nem tudo está perdido, já que o caos que existe hoje na saúde, com a incompetência dos governantes e o descompromisso da classe médica com a sua honra e a saúde dos pacientes, inevitavelmente levará as pessoas a concluírem que é imprescindível que cada um passe a se responsabilizar pela sua saúde, buscando informações e estando atento na hora de escolher o profissional que seja necessário para ajudá-lo, através de observação acurada da sua prática técnica, mas, sobretudo, da sua pessoa, que transparece em suas atitudes e postura. E que, acima de tudo, possam compreender que todos nós dispomos da capacidade de autocura que pode ser despertada com a focalização do Eu interior, através de práticas de meditação, por exemplo, ou simplesmente sabendo que temos esta capacidade e aprendendo a estimulá-la com a mente e esperar que se manifeste. É claro que, dependendo do grau de comprometimento e do caso clínico em questão, será necessário e de melhor indicação contar com ajuda profissional. Mas, nem sempre, esta é a regra.
Percebemos que as pessoas, atualmente, em sua maioria, vivem reféns do medo de adoecer, se desesperam, correm para buscar fora o que têm dentro como recursos de cura e, frequentemente, a evolução acaba sendo pior do que seria se deixada seguir normalmente, sem intervenção. Isto ocorre, comumente, nos casos de viroses, onde o uso indiscriminado de antibióticos é desastroso, só para citar um exemplo.
Dessa forma, eu me senti amparada nas minhas idéias e louvo a atitude de coragem, ética, responsabilidade, inteligência, abertura mental (acompanhando o desenvolvimento de novas descobertas em variados campos de estudo), profissionalismo e exercício de consciência dessa excelente médica.
Essa profissional se arrisca, denunciando que as pesquisas com medicamentos são dirigidas, gerenciadas pelas grandes empresas farmacêuticas, que conduzem as pesquisas, controlam a apresentação dos resultados, excluindo o que não lhes interessa que seja mostrado.
E aí? Dá para confiar nos resultados de pesquisas sobre as doenças e seus tratamentos? Os próprios profissionais poderão confiar nos efeitos prometidos de atuação das drogas, posologias e ausência de efeitos colaterais?
É mais prudente desconfiar sempre e basear sua prática naquilo que é tradicionalmente eficaz, sem deixar de acompanhar o progresso da ciência, mas só depois de deixar assentarem os modismos e separar com muita diligência o joio do trigo. Dessa forma prosseguem com ótimos resultados as Medicinas Tradicionais Chinesa e Indiana.

Escrever - Clarice Lispector

Não se faz uma frase. A frase nasce.