terça-feira, 9 de março de 2010

Uma Doença Chamada Plano de Saúde

Se a saúde pode ser definida como um estado de bem-estar físico, mental e espiritual em que o sujeito pode estar apto a atender aos mais altos fins de sua existência, a doença mais prevalente nos dias de hoje é a que resulta de possuir um plano de saúde.
Quem pode ficar sossegado depois de adquirir um título de empresa de saúde?
Apesar dos comerciais com belas imagens de pessoas esbanjando saúde e mensagens subliminares equivalentes aos produzidos por fabricantes de cigarros, é evidente que nunca mais o assistido terá paz nos dias que lhe restarem para viver.
E isso acontece porque é quase impossível receber “dez com louvor” após precisar se submeter a uma avaliação por um clínico conveniado. As chances de ser enviado para consultar outros especialistas são altíssimas, mesmo se a pessoa é quase assintomática.
É que a Medicina de hoje, altamente tecnológica, é exercida por esses profissionais impessoais, que se portam de forma indigna do juramento que fizeram, que são medrosos e que não estão dispostos a assumir responsabilidades, antes preferindo resguardarem-se, solicitando quase sempre uma infindável lista de exames, ao invés de se aterem a ouvir o paciente com cuidado e buscar um diagnóstico que seja individualizado para o cliente.
E nessa busca desenfreada por explicar sintomas que, freqüentemente, se relacionam com vivências cotidianas, questões psicológicas ou distúrbios funcionais que não aparecem nos exames, mas que podem ser entendidos e resolvidos através da escuta atenciosa e interação com o paciente, fazendo a integração dos mesmos, muito dinheiro é despendido inutilmente na realização de exames de laboratório, de imagem e exames funcionais, totalmente desnecessários.
E é preciso que se diga que o maior desperdício não é do dinheiro em si, mas da própria saúde do sujeito que perde suas energias se consumindo num trabalho inglório e estressante de solicitar autorização das empresas para realizar determinados exames, marcá-los num tempo hábil, perder seu precioso tempo para fazê-los, aguardar ansiosamente os resultados com o coração na mão, depois de passar pelos constrangimentos, dores e dificuldades do exame em si e, finalmente, ter o veredicto dos médicos que, não raramente são incapazes de resolver os resultados conflitantes e acabam pedindo ainda outras novas provas para elucidar os mistérios que eles mesmos ajudaram a produzir, tanto por ficarem mais perdidos do que cego em tiroteio, pela deficiência da história mal colhida e exames físicos incompletos quanto pela possibilidade freqüente e inerente a cada exame de ter falsos positivos ou negativos.
É inegável que para aqueles que apresentam doença aguda ou crônica com expressão no plano físico ou cujo diagnóstico dependa de exames específicos ou avaliação por especialistas, o cliente possuir um bom plano de saúde representa uma comodidade tanto para o médico como para o doente e por vezes é mesmo indispensável, apesar dos problemas, tendo em vista nosso atual sistema de saúde pública tão precário e ineficiente.
E é assim que caminha a Medicina com a sua impessoalidade, sua alta tecnologia fria e desconcertante, seus erros patéticos e injustificáveis, seus processos cada vez mais freqüentes, perdendo apenas para seus protocolos, classificações, procedimentos e medicamentos de última geração.
Que saudades do tempo em que era possível ter um clínico que atendia a família, que era amigo e íntimo e no qual podíamos confiar, que considerava a sua obrigação profissional estar junto do paciente em todos os momentos para promover a cura, não da doença, mas do paciente, sabendo das suas limitações, não posando de Deus Todo Poderoso, mas com a autoridade de quem está ali para melhorar a condição do sujeito, que usa a sua pessoa, a sua palavra, a sua intenção, a sua sabedoria e o seu amor para exercer a sua profissão com dignidade.
Apesar do estrago sem precedentes que os planos de saúde trouxeram para o exercício digno da Medicina, ainda existem esses raros profissionais. E quem topar com um desses pela frente, agarre-o com unhas e dentes e cuide de preservá-los, desde que não em cativeiro porque estão em extinção, mas são livres por natureza.