quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tudo Passa

Quanta coisa abandonamos pelo caminho!...
Sonhos, crenças, amigos, ideais...
O tempo traga, sem percebermos,
Tudo a que não nos ligamos mais.

Só fica para sempre (se é que isso existe)
O que passou a fazer parte de nós,
Aquilo que regamos com a água bendita do amor,
Que olhamos, e lembramos, se estamos sós.

Abandonamos o que aos poucos em nós perde o viço
E somos deixados por quem se desinteressou...
Mas há coisas que acabam dando sumiço,
Mesmo se delas cuidamos com amor.

É que cada coisa na vida tem seu tempo
E há o tempo certo de cada coisa nos deixar.
Melhor seguir praticando o desapego,
Viver o momento inteiramente, ser capaz de abandonar.

Ousar seguir prendendo-se a nada,
Voar mais alto, se preciso for,
Pois os únicos laços, nesta longa estrada,
Que jamais se rompem, são os do Amor...
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Este post faz parte da blogagem coletiva de setembro do Duelos Literários: Abandono.

Abandonada

Sozinha entre iguais desconhecidos
E abandonada pela sensatez
Disfarço e ando solta. Faz sentido?
Incrível essa minha desfaçatez!

Pareço pensar como todo mundo
Ninguém imagina o que em minha mente vai
Se pudessem lê-la nesse segundo
Veriam, claramente, a causa dos meus ais.

É que meu universo é tão sombrio
Que parece para nada haver esperança
Eu me debato sempre nesse caudaloso rio
Enquanto aguardo (paradoxo) a bonança.

E vou tocando os dias sempre iguais
Fazendo só o que deve ser feito
Sem cor, sem brilho, só fatos banais...
Pois que o problema é o olhar que não endireito.

Chamem de depressão ou de falta de graça
Não importa o nome que se dê
O fato é que não consigo escapar da trapaça
Que o mundo fez comigo ou eu mesma fui capaz de fazer.

É isso mesmo, vejo claramente agora
Não é Deus nem o mundo, sou eu que me abandono
E pra poder dar uma reviravolta nessa hora
Ao invés de me vitimizar, só tendo comigo o definitivo confronto.
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Este post faz parte da blogagem coletiva de setembro do Duelos Literários: Abandono.

Abandono

Como o patinho feio que sendo cisne entre os patos, sem saber quem realmente era, sentia-se diferente e era quase sempre rechaçado pelos falsos iguais, eu vivi antes de encontrar você.
Mas, quando nos olhamos pela primeira vez e o impacto do encontro de almas iguais se fez sentir e foi com o tempo se manifestando e trazendo para nós duas a tranquilidade de saber que era possível sermos e nos expressarmos exatamente como éramos, tudo mudou e abriram-se portas para nós. Seguimos depois por caminhos diferentes. Entretanto, sabermos que cisnes existiam acalmou nosso coração que, apesar de participar de outras histórias, sempre bateu com a esperança do reencontro e, finalmente, a paz. E assim se deu num dia inesquecível em que foi possível explodir o amor verdadeiro e, desde então, entrelaçamos nossas almas e deslizamos suavemente no lago azul chumbo da vida, sendo o que somos, felizes, irradiando a luz de oitavas superiores. E o que parecia abandono, a sensação de estar perdido como um extraterrestre, mostrou-se reconhecimento e êxtase.
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Este post faz parte da blogagem coletiva de setembro do Duelos Literários: Abandono.

Abandono

Quantas de nós se abandonam
E já nem sabem ao menos quem são.
Deixaram pelo caminho perdidos
Crenças, sonhos, amores, vocação.
E foram sendo levadas
Pelo que era esperado delas.
Seguiam com a manada
Cegas, sem vontade, acuadas.

Hoje são encarquilhadas na mente.
E no coração em pedaços, sangram.
Viraram frangalhos, robôs dementes.
Enterraram fundo a natureza selvagem, o âmago.

É preciso tentar voltar a ser.
Descobrir quem somos na realidade.
Não há mesmo o que temer
Em se mostrar na sua verdade.
E isso é revitalizante para o corpo:
Voltar a ser animado pela alma liberta.
E, sem amarras, quebrando as defesas, inverter o jogo.
Brincar, fluir, soltar a voz, deixar as janelas abertas.

A mulher selvagem não segue regras simplesmente.
Espontânea e solta, olha para o abjeto com coragem.
Vive o amor, o sexo, solta o espírito, é coerente.
Expressa sua verdadeira natureza, não importa a imagem.
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Este post faz parte da blogagem coletiva de setembro do Duelos Literários: Abandono.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Não sei como acontece e porque,
Às vezes, tudo se complica e escurece.
E desanda, empelota e apodrece,
Deixando marcas difíceis de esquecer.

E o que mais causa espécie é o absurdo
De não se encontrar o responsável,
Embora pareça que somente o imponderável,
Responde por esses ossos duros de roer...

A convivência pode ser algo extenuante,
Se não se atenta para o óbvio a aprender:
Que na relação com seu amante, na verdade,
Você se encontra cara a cara é com você.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sentindo o Inesperado

Meu grande amigo, desde que fiquei sabendo do que está acontecendo com você, só tenho um pensamento: que esteja agora sendo chamado a desenvolver um trabalho mais refinado em outras frentes de assistência, em outras esferas.
Pensei em como me sentiria se estivesse no seu lugar, tentando ter essa vivência. E então, me vi muito triste. Não por receio do que viria depois, mas em virtude da falta de opção na concordância em ir e pela tão súbita convocação.
Refleti e imagino que o tempo irá lhe trazer a compreensão e a calma para viver esse momento tão importante de sua vida. É que já está pronto e precisam de você atuando de forma diferente.
A sua essência, de tanto brilho, compassiva e evoluída, nada teme, lamenta ou fraqueja. É só alinhar-se com ela.
O trabalho que vem desenvolvendo por tantos anos em nosso hospital, tão diferenciado, competente e humanizado, marcou profundamente a vida de todos que um dia foram tratados por você e cada uma dessas pessoas, reflete o sentimento de Amor em sua direção. Existe, nesse momento, um entrelaçamento de auras e sendo assim, você não está sozinho, pode ter certeza.
Estarei a seu lado em pensamento e, se puder ser útil em qualquer circunstância durante esse processo, é só chamar que estarei perto.

E tudo que foi durante sua vida, impresso em nossos corações.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Viver de Luz

Viver de Luz: a fonte de alimento para o novo milênio - Jasmuheen

Na verdade, a base da experiência da autora é a conscientização de que ela é um ser de luz numa vivência material, exatamente como cada um de nós. E, como consequência desse processo, é possível prescindir do alimento material como sustento para a vida.
Então, o livro vai muito além de apresentar e discutir o processo de vinte e um dias para passar a viver de luz. O foco não está em comer ou não comer, nem no que se come e sim trabalhar com o sistema de crenças, realizando um processo de iniciação espiritual, em que se passa a viver em outro nível de vibração energética.
Mostra como integrar os corpos físico, emocional, mental e espiritual para gozar saúde e como a saúde de cada um de nós depende daquilo em que acreditamos, exatamente uma derivação de como a nossa realidade é moldada por nossos pensamentos e nossas crenças.
Fala dos processos de cura, imortalidade, regeneração celular a partir da conexão com nossa divindade interior (o Eu presença) e esclarece que esta realidade de sermos seres ilimitados é a nossa perspectiva para breve. E que há, entre nós, cada vez um maior número de pioneiros que servirão de exemplo, os trabalhadores da luz.
Chama a atenção dos médicos ocidentais para que compreendam que a fonte de energia para o corpo não provém somente do alimento material, mas também da luz solar que alimenta nosso sistema galáctico e do prana que absorvemos na respiração e pela pele. E demonstra que, uma vez que estejamos sintonizados perfeitamente com nossa porção divina, o prana poderá ser nossa única fonte de energia.
Esclarece ainda que é um processo inteiramente pessoal, em que a escolha e a responsabilidade são unicamente daquele que se propõe a fazê-lo e que se sustenta no grau de conexão que estabelece com a sua luz interior, sendo possível, em determinado momento, para uns e não para outros. Também fala que a passagem para viver de luz deve ser progressiva, de acordo com a natureza de cada ser, deixando de comer carne, depois só consumindo alimentos crus, depois só líquidos, até chegar a viver só de prana. E tudo isso interligado com o desenvolvimento espiritual através de meditação e prévio fortalecimento do corpo físico com saúde, condição muscular perfeita e estabilização do peso corporal, além de estabilização emocional e correção de pensamentos (reprogramação mental e reformulação de imagens). Inclusive relata que muitas pessoas que passaram pelo processo dos vinte e um dias com sucesso, experimentando a conscientização de sua natureza espiritual, depois voltaram a ter uma alimentação normal (embora mais cuidadosa), muitas vezes por questões de ordem social.
Enfim, é um excelente livro que nos fala do poder ilimitado da conscientização de nossa natureza espiritual com todos os seus efeitos benéficos, principalmente de aflorar a clarividência, a clariaudiência, trazer leveza para o corpo e a necessidade de menos horas de sono. E sinaliza que, com esse processo, haja a possibilidade de resolver a fome mundial.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Tempo de Esperar

Tormento de uma espera infindável...
Ruminação, na mente, de inesgotáveis pensamentos.
Atalho que mais parece acréscimo no itinerário.
Norte não existe, é melhor soltar-se ao vento.
Sina triste que acompanha as mudanças.
Irritação por já não ser mais e ainda não ser o novo.
Cata-vento que só gira e na velocidade que deve ter,
Anunciando um outro tempo que ainda não chegou.
O melhor é relaxar, deixar acontecer. É doce a espera para quem confiou...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Bem Viva

Voou bem alto perdendo-se no Todo,
Desapegou-se, enfim, da limitação material,
Diluiu-se em rósea atmosfera,
Iluminou-se envolta em amor incondicional
E para sempre integrou-se à eternidade.

Deixou-nos numa tarde que se fez cinzenta,
Embora lá fora o pôr-do-sol fosse belo,
Corações sangrando pela sua ausência,
Desnorteados, tristes, seguimos quebrado o elo
E até hoje a saudade em nós sobrevive.

Mas quem tanto amou nesta vida,
Decerto deve estar muito bem...
O tempo ajuda a cicatrizar as feridas
E abrir o coração deixando entrar luz outra vez.

Então seguimos guardando as lembranças
Cada vez mais vivas, liberadas da dor,
Agradecendo por tê-la na dança da vida
E dedicando a você infinito amor.

domingo, 20 de setembro de 2009

Luz da Esperança

Atravessa a luz rasgando as dores...
Luzindo e desfazendo o negror da noite.
Voando, os pássaros anunciam novo dia,
Ornando o céu com os rabiscos de asas em movimento.
Rodopiam com a brisa suas penas que se soltam e
Atapetam o solo as folhas que caíram na tarde anterior.
Desfez-se o véu da fria madrugada em gotículas de orvalho...
Aparecem os primeiros raios de sol e nos corações, novos amores.

sábado, 19 de setembro de 2009

Fernando Pessoa e suas Certezas

De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que vamos continuar, e a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar; portanto, devemos fazer a interrupção, um novo caminho; da queda, um passo de dança; do medo, uma escada; do sonho, uma ponte; da procura, um encontro.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Intuição

Se existe uma meta a alcançar, a hesitação não passa de um atraso desnecessário numa bifurcação do caminho. Neste caso, a solução chega se chamamos a intuição na hora de escolher uma direção.

Meu Presente dos Céus

Doce presença a guiar nossas vidas.
Esteio macio onde sempre nos apoiamos.
Inesgotável energia, bem usada em prol da família.
Rosto luminoso irradiando luz em nossa casa.
Eixo que harmonizou todos que se acercavam dela.
Palavras certas sempre proferidas nos momentos de dificuldades.
Ouvidos atentos para nossos problemas em todas as horas.
Amor incondicional espalhado por nossos caminhos.
Alimento espiritual disfarçado em receitas inesquecíveis.
Olhar inquieto buscando sempre novos horizontes.
Estímulo que nos fazia alcançar nossa força quando fraquejávamos.
Otimismo diante da vida mesmo nos trechos mais puxados do caminho.
Coragem e decisão que conduziam todo o clã.
Espírito empreendedor representado por suas obras memoráveis.
Compassividade como sua religião atuando através do trabalho.
Responsabilidade e envolvimento total na vida da família.
Presente dos céus para nós, você, minha mãe, que hoje completaria 88 anos,
Deixou para nós saudade e tudo que foi durante sua vida.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Perda

Se você perde algo, isto não representa nada. Se uma vela é apagada, outra chama se acende, inevitavelmente.

Dormir Aqui e Amanhecer em Outro Lugar

Tudo aconteceu de repente, sem que eu tivesse tempo de me acostumar. Ontem eu vivia feliz com a minha família. Hoje acordei e a realidade era outra. Tudo se perdeu. Nem harmonia familiar, nem carreira, trabalho, sonhos, nem tampouco a saúde. Sou outro homem. Acordei com a sensação de estar em outro lugar. Um lugar lúgubre, sem amor, sem esperança. Tudo em que eu acreditava desmoronou. E, tão subitamente, que me encontro ainda tentando afastar os escombros e respirar um pouco o ar que é ainda possível sorver. Uma nuvem de fumaça encobre a paisagem e não me permite enxergar um palmo a distância, apesar de ter sido suficientemente forte para me desenterrar e ver um fio de luz. Sei que ainda há muito a fazer, dificuldades a enfrentar, emoções a deixar de lado até que possa me reerguer outra vez e buscar um caminho. Mas, nesse momento, fraquejo de novo e deixo a cabeça pender vertendo as lágrimas que me permitem lavar o rosto sujo e trazer um pouco de frescor à face e alívio ao coração, agora de pedra. Vou sobreviver, eu sei. Vou caminhar, embora trôpego e sair deste lugar inóspito onde acordei para a vida depois da noite inesquecível em que você me abandonou.


Este post faz parte da blogagem coletiva de setembro do blog Vou de Coletivo!: Dormir Aqui e Amanhecer em Outro Lugar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Angústia

Busco uma solução para a angústia que me toma
Quando penso sobre a Vida que aos homens abandona,
Que caminham cegos, tropeçando, sem tentarem entender
O porquê dos acontecimentos, o que devem compreender...

Seguem cometendo injúrias, conspurcando o próprio ser,
Parecendo não notarem que fazem por merecer
Quando logo ali adiante, esbarram numa conduta igual
De outro semelhante insano, fazendo sua vida banal.

Então vem a vontade de imaginar como seria
Dormir nesse lugar e acordar num lugar de fantasia,
Onde fosse a consciência que ditasse o padrão
De comportamento do homem, em cada importante ação.

Entenderiam, finalmente, que não existe lugar
Para seres egoístas que só pensam em lucrar.
Já que somos todos iguais e estamos ligados em rede,
Compaixão seria a regra e não só matar a própria sede.

E os homens de poder teriam a retidão de administrar
O dinheiro da nação com respeito e inteligência,
Cuidando e provendo a todos com o que é básico dar:
Educação e trabalho, o resto o povo alcança com diligência.

Não custa sonhar com um lugar assim, tudo parte da imaginação.
Cada um enxergando no outro um semelhante, é pedir demais?
Sentindo-se parte da natureza, integrado a ela e por ela responsável,
O homem expressaria assim o Amor e meu peito não apertaria mais...


Este post faz parte da blogagem coletiva de setembro do blog Vou de Coletivo!: Dormir Aqui e Amanhecer em Outro Lugar.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Feliz Aniversário, Antônio Carlos

Quando você nasceu, já mostrou como seria. Quase não deu tempo para sua mãe chegar à maternidade. Você tinha pressa e não esperou, foi nascendo sem dar muito trabalho e logo mostrou seu rostinho bem talhado e rosadinho para nós. Era uma criança linda, com os traços da sua mãe e o jeito do seu pai. Levado demais, fazia a festa para os seus tios e tias que adoravam você. E era o queridinho da vovó que tinha o mesmo signo natal. Seu avô gostava de pegar você no colo, sempre apaixonado por crianças.
Adolesceu e ficou mais quieto. Logo sua personalidade se manifestou, mistura da mãe e do pai com pitadas de avós e tios. E, perto deles que tanto ama, passou a observar, calar e refletir sobre si mesmo e a vida.
Aprendeu com a vida, refinou seu olhar. As experiências lhe ensinaram e permitiram que mostrasse características marcantes de sua personalidade, bem cedo.
Independência, autodomínio, retidão de caráter, responsabilidade, intuição forte, teimosia, decisão, perseverança se misturaram a um espírito sensível, protetor, amoroso, dócil e inteligente. Experiência e trabalho são fundamentais para você.
E assim segue pela vida, guiado somente pelo que dita sua consciência, a força de sua mente, parecendo não aceitar as opiniões alheias. Mas, no fundo, você reflete, filtra, intui e segue fazendo seu próprio caminho.
Que sua estrada seja segura, florida, rica de experiências e o conduza para o que desejar e for melhor para você, sempre.
Parabéns de sua madrinha que o admira, ama e muito se orgulha de você. Beijos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Nossas Ações

Quando outra chama se acende numa vela previamente apagada, constatamos que nada se perde no efeito final se retornamos com a mesma ação anterior.

domingo, 13 de setembro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

Medo do Futuro

O que chamamos medo do futuro não passa de simples hesitação, quando existe mudança de caminho antes de atingir a meta.

Varal

No amplo quintal da casa, balançam ao vento roupas coloridas pregadas ao varal. E quem fica perto sente no rosto os respingos da água que são lançados pelas peças que ainda deixam escorrer a água do enxágüe no chão depois de lavadas, umedecendo a grama que fica então mais verdinha. É coisa bonita de se ver.
Lavar roupas nas casas do interior ou nas zonas mais pobres da cidade é um prazer ainda hoje. Não existe o som monótono e barulhento das máquinas de lavar. O que se ouve são as vozes das mulheres entoando as suas cantigas de saudade e nostalgia pelo estímulo do contato com a água, enquanto ensaboam e esfregam as roupas nas beiras dos rios ou nos tanques das casas. São roupas que elas conhecem, das quais tratam com um desvelo especial. É uma reunião de mulheres onde a conversa corre solta ou são mães e filhas que desnudam as almas enquanto lidam com os afazeres domésticos. É um espaço pleno de aprendizados transmitidos oralmente. As roupas são lavadas em água abundante e colocadas para quarar, ficando mais claras, absorvendo a energia do sol. No pátio aberto, depois de enxaguadas, são espremidas deixando um pouco de umidade ainda. E quando sacudidas molham o chão e as moças que irão pendurá-las e sempre trazem os pregadores presos aos vestidos como broches.
É um ritual de liberdade. É um trabalho de renovação: lavar, retirar a sujeira, enxaguar, receber a energia do sol, secar ao vento, exibir as cores, deixar que dancem, alegremente, balançando presas ao varal. E depois de já secas vão ser recolhidas e encostadas aos peitos das mulheres, pertinho do coração delas, incorporando um quantum de emoção e afeto, tornando mais vivos e abençoados os que irão usá-las depois.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Espera

Estou à deriva. Pensamentos invadem a minha mente e não se fixam. Não há obsessão que, pelo menos, direciona. Há um céu escuro e o mar bravio que joga a embarcação para onde quer. Não há bússola, não há farol, somente imensidão e vazio.
Quero ficar quieta, como quando temos medo de altura e ao atravessarmos uma ponte e nos darmos conta da altitude, nos abaixamos de cócoras no meio do seu trajeto e não há quem consiga nos arrastar dali. O encolhimento e a inércia parecem nos colocar a salvo. Mas, na verdade, é a morte prematura não experienciar o perigo.
Sei o que vem a caminho. Sei o que terei de enfrentar e a angústia da espera faz o fantasma ainda mais aterrorizante. Queria poder abreviar os dias e transpor essa dificuldade que toma grandes proporções por causa da expectativa.
Enquanto aguardo, parece que não consigo fazer nada direito. Os dias parecem nublados, o sol não consegue penetrar na minha alma, nem vem a chuva incessante para lavar de pranto as minhas dores e saudade. Estou alheia à vida. E afasto de minha mente o meu objeto de saudade. É como se relutasse em aceitar a dor da perda definitiva, pois que ultrapassado o tempo do luto, instala-se a ausência definitiva onde as lembranças rareiam e é como se a pessoa amada não mais nos acompanhasse no cotidiano, mesmo em recordação. É isso o que temo, é o que rejeito em aceitar e é o que será marcado com a exumação do corpo de minha mãe, quando se completar o terceiro ano de sua morte. Então terei que olhar para os seus ossos, os restos dos cabelos (que tantas vezes eu penteei e afaguei ao longo da minha vida), a ausência de carne, o reencontro com os despojos e também com a bonequinha que levou nas mãos quando partiu para a eternidade e que tem um significado simbólico tão importante para a família.
E ao olhar a morte de perto, o fim, bem diferente da simples saída do sopro do corpo que cedeu à doença, será impossível deixar de aceitar que ela se foi definitivamente como o ego que me acompanhou nessa vida e que tanto amei e agora é, paradoxalmente, só um espírito.
E assim, para quem a ama, sobreviverá como consciência apenas e lembranças.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Comunicação com os Espíritos

Comunicação com os Espíritos - Linda Georgian

Este livro é interessante porque relata a experiência de pessoas com capacidades mediúnicas e pessoas comuns que tiveram contatos com pessoas que já tinham morrido. O seu objetivo é dar conforto àqueles que perderam entes queridos, afirmando que a vida continua após a morte, só que em outra dimensão. Nos esclarece sobre formas que podemos desenvolver para alcançar a comunicação com os mortos, através de observação e preparação de nossos corpos físico e emocional, a fim de ser possível ultrapassar as barreiras dos nossos cinco sentidos. Mostra ainda como entender a alma em uma dimensão cultural, filosófica e científica. Descreve como outras culturas encaram a morte e como diferentes religiões lidam com ela Demonstra ainda como os xamãs através do contato com ancestrais mortos promovem a cura de doentes. É uma leitura interessante.

domingo, 6 de setembro de 2009

Natureza

Colmeia me lembra ursos.
Doçura almejada e roubada, é certo.
E as abelhas furiosas com seus abusos...
É bom fugir antes que cheguem perto!!!

Estou Lendo...

Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva.
Mulheres que Correm com Lobos, de Clarissa Pinkola Estés.

sábado, 5 de setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sobre o Amor

O amor só se realiza plenamente quando, após o deslumbramento inicial em que as expectativas são de receber o melhor, o belo, o delicado e o maravilhoso como únicas possibilidades, encaramos a realidade. Passada a correria na tentativa de se esconder (de si mesmo), podemos ser capazes de olhar a morte subjacente, enxergando e aceitando o que há de pior e, finalmente, fazendo renascer a carne, mas só depois de juntar os ossos num ser reconhecível e passível de ser amado.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ratos

Eles estão jogados, caídos, subjugados, presos nas ruas, dormindo entre ratos, sonhando com a humanização possível(?).
Meninos perdidos, sujos, sem consciência, manchados com a nódoa das ruas, refletindo toda a sujeira e descaso dos que por eles passam sem os enxergar.
Arrasados, desfalecem sob o sol a pino do verão, em qualquer lugar, e só não irão morrer se forem despertados à força e levados por mãos compassivas, que ainda existem, para a sombra. Porque, no seu declínio de todas as horas, não reconhecem a luz, seu locus é lúgubre eternamente.
Esses meninos vão morrer e não deveriam, tão cedo! Famílias inteiras se desintegram e ocupam as ruas. Eles não se refugiam nas ruas mais desertas, ficam intencionalmente nas ruas principais. Mas não os enxergam! O que esperam da vida? Há vida para eles? O que lhes proporciona o crack? Que lacunas são preenchidas neles?
Será que no barato da droga, no êxtase tão efêmero onde se “integram”, onde naquele instante cada um deles é um com o todo, vale todo o resto do tempo, em que continuam excluídos, à margem, no lixo, dividindo com os ratos o espaço, imitando deles a respiração rápida e superficial que não faz parte da sua própria natureza e que advém do medo?
Eles são feitos ratos. São ratos que fedem, cinzentos, rápidos, fugidios, rechaçados, inspirando medo quando de fato só precisam de proteção.
E se são ratos por estarem assim, então porque os ratos que estão no poder não os veem? Por que não reconhecem sua mesma natureza de ratos, usurpadores do que não lhes pertence e direcionam recursos oriundos dos impostos arrancados covardemente dos trabalhadores para transformar essa triste realidade das ruas?
A quem pertencem esses meninos?
Só os compassivos se ocupam deles que, deslocados, continuam proliferando nas ruas, ameaçando quem passa com a barbárie por efeito das drogas e levando junto aqueles que ainda não se transmutaram em ratos também.
Quem será capaz de proteger-lhes de si mesmos?
Que programa social de verdade pretenderá modificar-lhes o destino realmente?
Não podem ser deixados à deriva simplesmente. Se assim for, arrastarão para o fundo aqueles que se julgam a salvo nos seus lares.
Urge que se faça alguma coisa para reverter essa situação absurda e desumana, senão por amor, ao menos por algo tão humano como o egoísmo, prevenindo o que está certo:
QUE PROLIFEREM CADA VEZ MAIS OS RATOS E TRAGAM A PESTE QUE DIZIMARÁ A TODOS – A PESTE NEGRA DA FALTA DE COMPAIXÃO.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Olhos Negros

Solidão dilacera meu corpo neste momento sem glórias. Tropeço pelo caminho feito de misérias em que sigo como única opção ao desfalecimento definitivo e morte.
Não encontro quem me apoie. Eu tenho que ser meu próprio esteio quando a sentença é olhar a morte cara a cara.
É uma iniciação. É mais uma depois de tantas e não me amedronto. Sei que posso olhar agora o que de mais horroroso se apresentar. Desconheço as máscaras que pretensos salvadores insistem em usar. Não as quero intuir também. É preciso lidar com as personas na forma que tiverem. E apenas ter o conhecimento de que são apenas máscaras.
Procuro na vida o conhecimento puro, aquele que provém da experiência. E devo vivenciar a dualidade de todas as coisas, por mais que isto me custe.
O que é mais difícil é ser subjugada e admitir, na caminhada, trechos que foram repudiados e rejeitados anteriormente e que, em dado momento, se constituem no aprendizado mais valioso. Afinal, faz-se necessário vencer a si mesmo antes de ser aceito como iniciado.
Procuro a natureza real das coisas e neste caso é preciso estar sozinho, ser absolutamente aberto no olhar e não ter medo de ver. Buscar ver, desvendar o que não se mostra, esclarecer o que é dissimulado. É isso o que eu desejo.
E no caminho da descoberta do que é real, imagino que sou apenas dois grandes olhos pretos e perscrutadores.

terça-feira, 1 de setembro de 2009