segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sol: Brilha e Aquece

Cresci ouvindo falar dela. Era o bebê mais gracioso. Minha mãe não cansava de discorrer sobre a mesma história: tinha nascido grandona, de perninhas roliças. E assim foi ficando gordinha já nos primeiros meses. E sempre sorridente. Também contava que era muito dada, gostava de todo mundo. Quase não chorava e apreciava um colinho. Os irmãos mais velhos saíam a exibi-la para os vizinhos. As roupinhas feitas para ela eram um sucesso!: as outras mães pediam os modelos para tentarem também fazê-las para suas filhas e minha mãe me falava sobre isso cheia de orgulho (pela filha e por seu talento de costureira).
Os bebês já mostram o que serão pela vida afora.
Assim é essa minha irmã: linda.
Seu rosto é gracioso, sempre estampando um sorriso que cativa. E todos a querem por perto, já que é ótima companhia, divertida, muito leve e, claro, gordinha. Tem ares de criança ainda, que não se permitiu perder o que de melhor havia nela. Criança porque inocente, receptiva e generosa.
E a energia que tem? Imbatível, até para as crianças quando brinca com elas. E sempre brinca. Mas, acima de tudo, as protege. Não somente dos perigos reais do mundo (posto que é muito cuidadosa); é, principalmente, protetora incansável da magia da infância para os pequenos. É ela a tia que se recusa a presentear crianças com roupinhas ou artigos escolares, mesmo que sejam necessidades para os pais; sempre defendeu os brinquedos, que lhes ofertava em embrulhos multicoloridos, ornados com fitas e, de preferência, bem grandes, para encher seus olhinhos maravilhados.
Para as crianças ela é inesquecível. Os sobrinhos que hoje já são pais e até avós, relembram, entre sorrisos, como fugiam dos seus beijos babados e agarrões. E é assim até hoje: uma festa para as crianças.
Na cozinha ela se espalha, reina absoluta e tem, no marido, seu fiel escudeiro e gourmet apaixonado. É abundante, generosa no que faz (abusa dos cremes, recheios, coberturas) e, principalmente, naquilo que oferece. Ninguém deixa a sua casa sem levar um farnel completo. Sua cozinha é o laboratório onde exercita a alquimia de juntar ingredientes e transmutar em amor.
Como irmã é a mais ponderada. Ela tem nome igual ao da mãe e mesmo que às vezes seja tachada de infantil ou meio doida, é a ela que todos recorrem quando precisam de uma opinião segura e equilibrada ou aconselhamento nas situações mais difíceis, em que sua avaliação é a mais precisa e responsável. Caminham em sua direção porque, como a mãe, é a que tem o amor incondicional para dedicar em qualquer circunstância. É aquela que sempre perdoa opiniões preconceituosas, palavras descabidas e atitudes insensatas nos momentos de ventos transformadores em nossas vidas, representando, portanto, nosso porto seguro. E o seu perdão ela oferece voluntariamente, procurando quem a ofendeu, doando carinho e amor.
E pensam que falo de uma dona de casa, tia, esposa apaixonada, irmã dedicada? Falo de tudo isso e muito mais, pois que esta estrutura sólida, fundada no amor e generosidade, ela levou onde atuou por toda a vida: na família e no trabalho. Nas empresas foi a executiva brilhante, a gerente, é claro, mas de “recursos humanos”, trazendo seus funcionários ligados a ela, sob seu comando, dedicados aos trabalhos, mas como numa brincadeira de roda. Gerenciou, protegeu, amparou, estimulou, corrigiu quando necessário e cumpriu suas metas com nobreza, segurança e, acima de tudo, leveza. Responsabilidade amorosa é a sua cara. Então se aposentou, deixando saudade e inspiração para os que a sucederam. E prossegue, ainda, fazendo deliciosas limonadas com os limões que a vida, às vezes, lhe oferece.
E charme, ela tem de sobra, porque nasce da auto-estima elevada. Ela se adora e o amor que tem por si reflete para o mundo. Por isto, onde ela está, só existe alegria. E se acaso está triste, o que é raro - só quando desliza e, boba, se preocupa e faz drama -, tudo parece ficar cinza. Porque ela é, desde bebê, um sol vibrante para nossas vidas, que sempre aquece e ilumina.