Se você já teve uma crise de asma, vai poder entender perfeitamente o que estou falando.
Acontece geralmente no meio da madrugada. A pessoa acorda sufocada, não consegue botar o ar para dentro, já que o que está dentro não pode ser eliminado. É uma pressão no peito! Cansa, chega a doer. O coração dispara, vem o medo que aumenta a dificuldade respiratória e sobrecarrega ainda mais o coração.
E o infeliz geralmente não consegue se acalmar. Acha que vai morrer e recorre aos broncodilatadores ou corre para o pronto-socorro.
As duas possibilidades são desastrosas porque trazem um alívio, mas geram dependência.
E o que provoca a crise? Já estamos fartos de ouvir falar no assunto, de escutar as recomendações, de vibrar com as novidades da terapêutica, que na verdade, logo se mostram ineficazes. Porque todas as condutas estimulam a dependência, seja do terapeuta, dos remédios, do isolamento, da negação dos contatos. E o portador desse tipo de problema precisa, ao invés de se proteger, se isolar, se retrair, é de se abrir, confiar em si mesmo, desenvolver o seu poder pessoal, sentir-se forte e preparado para viver nesse mundo.
Mas palavras são bonitas, é até fácil compreender todo o processo, porém na hora da falta de ar...
O que buscar? O que fazer?
Acordei de madrugada: era aquela aflição, a pressão no peito, o coração disparando, expirar, só por meio da tosse. Não consigo bocejar, o diafragma não desce. Ficar deitada é impossível, apesar do sono. Não consigo relaxar. Tenho que ficar sentada, curvada para frente, usando músculos acessórios do pescoço para respirar.
Eu tinha entrado em contato com alergenos: ácaros, mofo, poeira, produtos de limpeza, aerossóis para matar mosquitos. A casa estava fechada por muito tempo e o tempo estava úmido. Eu estava ansiosa porque tinha viajado e isto para mim é causa de ansiedade.
Aí tudo se soma e surgem os sintomas. Seria fácil usar medicamentos. Mas não concordo com isto. Já que sou alérgica, procuro, por uma questão de comodidade, evitar o contato com os fatores que desencadeiam o processo.
Às vezes, é impossível e surge a crise. Sou virgem de tratamento e pretendo continuar assim. Já passei por maus pedaços, mas superei sozinha. Na minha pior crise, num dia de frio intenso em Lumiar, com chuva forte, e antes uma umidade enorme, só saí da crise rezando. Fui me acalmando; a chuva foi caindo, a umidade também e aí melhorei.
Na minha última crise, procurei me conectar com alguma coisa maior que eu. No meio da crise, lembrei de meu pai que morreu há oito meses em edema agudo de pulmão, velhinho e sem suporte hospitalar. Lembrei-me da sua agonia e da minha que estava ao seu lado e que por ter asma,conhecia um pouco o horror de me sentir afogada. Essas lembranças são dolorosas, porque me trazem culpa, já que não permiti que meu pai fosse entubado para evitar todo o sofrimento prolongado dos que morrem sem a dignidade de aguardar a sua hora em paz junto dos que amam e não sustentados por aparelhos.
Aí, instantaneamente, ao invés de ficar sofrendo por lembrar da agonia do meu pai no leito de morte e me comparar nesse momento a ele, pensei no meu pai como sua alma e não seu corpo físico. Pedi sua ajuda, sua inspiração. Então pude contemplá-lo na sua grandeza e perfeição.
Nesse momento, sentada na cama, instintivamente assumi a posição de lótus. Ao invés de permanecer curvada fui tentando alongar a coluna e abri o peito. As mãos pousaram sobre os joelhos tentando englobá-los com suavidade, com um sentido de proteção enquanto internamente eu repetia a mim mesma: lembre-se de quem você realmente é. Assim fui ficando, abrindo as asas para respirar, lembrando a mim mesma de quem eu realmente era.
Imediatamente algo aconteceu. A respiração foi ficando menos pesada, fui relaxando, conseguindo expirar e aprofundar a inspiração, o coração foi acalmando e logo eu estava me sentindo melhor. Com a expiração foi sendo drenado aquele muco que ao sair dá tanto alívio. Logo, eu já conseguia ensaiar uns bocejos. Na crise também ajuda muito abrir e fechar a boca várias vezes para estimular um bocejo que permite que o diafragma possa descer e ampliar a respiração. A gente não consegue bocejar quando está com a dificuldade respiratória.
Quando já estava bem comecei a pensar no que tinha acontecido, a analisar o que tinha feito de forma intuitiva e cheguei à conclusão de que tudo é muito simples.
A gente vive tanto quanto respira e tão bem quanto bem respira.
Então, se há dificuldade respiratória, você está caído, pra baixo, literalmente curvado. Na crise você está sob tensão, contraído. Então o tratamento é relaxar, alongar, soltar (o medo da morte gera apego). Mas o corpo físico não é capaz disso porque está sob estresse. A circulação energética está prejudicada, estagnada em algum ponto. É preciso então conectar com a alma. Esta é poderosa. Então é preciso lembrar que nós não somos apenas aquele corpo que sofre naquele momento na encarnação. É preciso despertar a memória de que somos alma, que já morremos outras vezes e que continuamos, então isso apaga o medo da morte que é o medo primordial e é o medo de quem não está respirando normalmente. Conectar com a alma é despertar a força curativa que todos temos, ainda que adormecida.
E a postura instintivamente adotada facilita o restabelecimento da circulação energética. Elevando os braços também tonificamos o meridiano do pulmão e isso eu também fiz na seqüência da melhora.
Enfim, com procedimentos simples é possível sair de uma crise, ganhando autoconfiança para no segmento tomar as medidas que visam evitar novas descompensações. O fato de não usar num primeiro momento medicamentos, nem correr em busca de ajuda externa constitui um ganho enorme no processo de lidar com esta doença.
Até mesmo com crianças, estimular determinadas posturas, fazê-las cantar e despertar nelas a confiança traz grande ajuda na assistência ao paciente.
Concluímos então que é imperativo e muito vantajoso, sob vários pontos de vista, despertar o curador que há dentro de você mesmo. É o melhor plano de saúde.