terça-feira, 7 de abril de 2009

Monte Castelo - Renato Russo, São Paulo Apóstolo e Luís Vaz de Camões

Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria

É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece

O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata, lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor

Estou acordado e todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor que conhece o que é verdade

Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria
.
.

Soldadinhos de Chumbo

Soldadinhos de chumbo
Passam por mim todos os dias
Pesados, curvados, rijos.
Soldadinhos porque ainda infantis
Apesar da máscara e dos ardis.

Apenas marcham, repetem,
Obsessivos cumprem as ordens, só ordens.
Têm revoltas que abafam no íntimo
Roubando-lhes as energias e o sorriso.
Assim não criam, não se alegram, sofrem,
Apenas marcham e racham o coração
E ampliam as costas e é só solidão.

Soldados de que exército insano?
Recrutas da loucura e reféns do medo,
Enrijecem-se, apagam a candura
E continuam desfilando sua tristeza todos os dias,
Permanecem ainda soldadinhos de chumbo.