quinta-feira, 19 de março de 2009

Sala de Anatomia

Esqueleto empertigado
Passeia na sala vazia,
Remexe os ossos sem graça,
Busca, talvez, companhia.

Quem sabe queira dançar,
Suavizar a coluna,
Soltar-se, ficar mais leve,
Fazer qualquer diabrura.

Mas, de repente, se acende
A luz do laboratório,
E ele corre com medo,
De volta pro purgatório.

Volta a ficar pendurado
Naquela pose idiota,
Esperando que lembrem dele
Somente nos dias de prova...

Sutras de Shiva

Quando estiveres vividamente atento através de um sentido qualquer, mantém-te alerta.
Quando sentado ou deitado, deixa-te ficar sem peso, além da mente.
Vê, como se fosse pela primeira vez, uma bela pessoa ou um objeto comum.
Na beira de um poço profundo, olhe atentamente para a profundeza, até o assombro.
Olhando para o céu azul atrás das nuvens, vê a eternidade.

Saigon - Cláudio Cartier, Paulo César Feital e Carlão

Tantas palavras
Meias palavras
Nosso apartamento
Um pedaço de Saigon
Me disse adeus
No espelho com batom...

Vai minha estrela
Iluminando
Toda esta cidade
Como um céu
De luz neon...

Seu brilho silencia
Todo som
Às vezes
Você anda por aí
Brinca de se entregar
Sonha pra não dormir...

E quase sempre
Eu penso em te deixar
E é só você chegar
Pr'eu esquecer de mim...

Anoiteceu!
Olho pro céu
E vejo como é bom
Ver as estrelas
Na escuridão
Espero você voltar
Pra Saigon...
.
.
.

Descuido

Pousa mais uma rolinha no quintal,
Mal sabe o perigo que ronda:
Atrás de um lençol no varal,
O moleque espreita na sombra.

Sassarica a pobrezinha descuidada,
Beliscando coisinhas no chão, travessa,
Encontra logo a armadilha montada,
O menino puxa a corda e ela fica presa.

Qual será o destino da coitada?
Nas mãos do guri malvado?
Ficar cativa na gaiola enfeitada
Ou então virar um ensopado?
.