quarta-feira, 3 de junho de 2009

Catavento de Meninos

Manhã fria na calçada imunda do Jacarezinho.
Amontoados, mijados, dormem meninos ao léu
Formando um catavento, deitados, tão sozinhos,
No ponto de ônibus, entre pessoas, debaixo do céu.

São pás sem cor, sem futuro. Só solidão, desamparo.
Aconchegam o rosto nas costas do companheiro
E as pernas no calor da bunda de outro desgraçado
Que com um outro compõe a roda do mesmo jeito.

Quando é madrugada, os corpos caídos são a figura
Do abandono da família e da omissão do governo.
Eles carecem de proteção e fogem da realidade dura
Pelas drogas que só aumentam o seu desespero.

Cataventos devem rodopiar e alegrar a quem passa.
Meninos precisam brincar, dormir em cama quente,
Comer, rir, estudar, de uma vida sem tanta desgraça...
Quem poderá lhes salvar, se quem deve está ausente?

Penso todo dia, quando por ali passo na condução:
Poderia, sem esforço, dos meninos cuidar do sustento,
Usando o que pago ao Leão todo mês, sem opção,
Trocando futura corrupção por coloridos cataventos.

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