quinta-feira, 12 de março de 2009

Perfeição

A que nos remete a palavra? É algo de divino, transcendente, inalcançável, talvez. Buscamos atingi-la, ainda que em coisas especiais e pagamos alto preço quando nos distanciamos dela no que é corriqueiro. Se o olhar é estético, conseguimos imaginar o ser perfeito, a obra primorosa, o objeto talhado com perfeição ao concebê-los com a harmonia das formas. Mas, no plano moral, o que seria a perfeição? É inevitável cair no maniqueísmo de julgar bom ou ruim segundo nossos pontos-de-vista. Eu diria que perfeito é o que flui. Não precisamos gastar energia para realizá-lo. É como na natureza, em que os processos se sucedem numa conjunção harmonizada de etapas que culminam num evento singular e absoluto: como o desabrochar das pétalas de rosa com o momento certo de exalar o perfume e a cor exata; e a gota do orvalho que cai da folha e provoca ondas perfeitamente concêntricas na poça d’água de chuva. A palavra certa proferida no exato momento pelo homem sábio. A manobra correta executada pelo motorista ao se defender do incauto no trânsito caótico, evitando o acidente fatal. A decisão acertada do cirurgião num caso difícil que pode salvar uma vida. O gesto significativo do homem amoroso que alivia a dor de uma alma que sofre. O sorriso largo que muda a situação e alivia a tensão numa discussão acalorada. Afinal, o que é perfeito? É algo que devemos perseguir? Talvez não, porque isto também nos dá idéia de futuro. Pensando na palavra per-feito, que nos passa a noção de “durante o fazer”, a perfeição se refere ao momento presente, ao aqui e agora, ao caminho que se desenha durante o caminhar, ao deixar acontecer, ao fluir sem resistência, ao confiar, ao expressar o natural, ao simplesmente ser.

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