A minha é branca. Foi uma desconhecida para mim por muitos anos.
Na infância não tinha dela consciência, embora dominasse meus dias. Sim, porque quando bebê - dizia minha mãe - eu era tão quieta sempre que ela repetidas vezes mexia comigo no berço para saber se eu estava viva. Menina ainda, era muito esquisita e diferente das outras, tendo como brincadeira favorita ficar horas e horas no balanço de casa sozinha cantando ou estirada no sofá da varanda quieta sonhando. Assim, antes dos 6 anos, quando entrei para a escola, éramos eu e ela somente e eu vivia obedecendo ao seu comando. Aí, ao entrar em contato com o mundo - no meu caso se restringia ao colégio - nos afastamos. Acho que passei a viver por minha conta e então me danei. Foram anos difíceis, precisava enfrentar os dias sem sua ajuda, era insegura, medrosa e meus olhos tremiam diante de qualquer pessoa.
Na adolescência foi pior ainda, eu me achava feia e sem-graça, talvez como a maioria das garotas se sentem neste período. Seguia as regras, embora, por dentro, desejasse subvertê-las; era a tal da minha alma querendo retomar o contato comigo e eu nem me tocava.
Então aconteceu o pior: eu fui seduzida pelo mundo, gostei dos desafios, me empenhei e, na visão corrente, venci. E logo nem sabia mais quem realmente era. Passei a viver em função das expectativas do externo, que sempre me aprovava e queria mais no âmbito profissional, nos estudos, nas relações; maior ainda o distanciamento dela ficou. Vez por outra minha pobre alma se insinuava para mim naqueles momentos em que nos sentimos confusos com o turbilhão dos dias, então me sentia diferente, era bem estranho e convidativo, mas a sensação passava logo.
Até que, felizmente, a maturidade chegou e me tirou a venda dos olhos. Enxerguei como todas aquelas realizações e a própria rotina eram pobres, como era efêmero o contentamento. As dores das perdas que se sucederam, seja na vida profissional, familiar ou nas amizades, me jogaram num novo estado de ser. Fiquei, de repente, cara a cara com ela, a alma. Afastadas por tanto tempo, éramos, de certa forma, desconhecidas, mas não precisei tentar me aproximar dela, sua luz e grandiosidade se estenderam para mim naturalmente. Foi instantâneo o reconhecimento e, desde então, somos uma só. Posso, quase sempre, senti-la comigo, intuir a sua força e expressar o seu amor sempre que consigo escapar do hábito que ainda conservo de tomar a frente, tolinha, quando ainda me mostro controladora, insegura, medrosa, voluntariosa... Espero o dia feliz em que possa ceder e deixar que ela reine absoluta nesta vida, para que finalmente eu consiga apenas ser. Sem fazer, sem querer, sem esperar... só confiar.
Na infância não tinha dela consciência, embora dominasse meus dias. Sim, porque quando bebê - dizia minha mãe - eu era tão quieta sempre que ela repetidas vezes mexia comigo no berço para saber se eu estava viva. Menina ainda, era muito esquisita e diferente das outras, tendo como brincadeira favorita ficar horas e horas no balanço de casa sozinha cantando ou estirada no sofá da varanda quieta sonhando. Assim, antes dos 6 anos, quando entrei para a escola, éramos eu e ela somente e eu vivia obedecendo ao seu comando. Aí, ao entrar em contato com o mundo - no meu caso se restringia ao colégio - nos afastamos. Acho que passei a viver por minha conta e então me danei. Foram anos difíceis, precisava enfrentar os dias sem sua ajuda, era insegura, medrosa e meus olhos tremiam diante de qualquer pessoa.
Na adolescência foi pior ainda, eu me achava feia e sem-graça, talvez como a maioria das garotas se sentem neste período. Seguia as regras, embora, por dentro, desejasse subvertê-las; era a tal da minha alma querendo retomar o contato comigo e eu nem me tocava.
Então aconteceu o pior: eu fui seduzida pelo mundo, gostei dos desafios, me empenhei e, na visão corrente, venci. E logo nem sabia mais quem realmente era. Passei a viver em função das expectativas do externo, que sempre me aprovava e queria mais no âmbito profissional, nos estudos, nas relações; maior ainda o distanciamento dela ficou. Vez por outra minha pobre alma se insinuava para mim naqueles momentos em que nos sentimos confusos com o turbilhão dos dias, então me sentia diferente, era bem estranho e convidativo, mas a sensação passava logo.
Até que, felizmente, a maturidade chegou e me tirou a venda dos olhos. Enxerguei como todas aquelas realizações e a própria rotina eram pobres, como era efêmero o contentamento. As dores das perdas que se sucederam, seja na vida profissional, familiar ou nas amizades, me jogaram num novo estado de ser. Fiquei, de repente, cara a cara com ela, a alma. Afastadas por tanto tempo, éramos, de certa forma, desconhecidas, mas não precisei tentar me aproximar dela, sua luz e grandiosidade se estenderam para mim naturalmente. Foi instantâneo o reconhecimento e, desde então, somos uma só. Posso, quase sempre, senti-la comigo, intuir a sua força e expressar o seu amor sempre que consigo escapar do hábito que ainda conservo de tomar a frente, tolinha, quando ainda me mostro controladora, insegura, medrosa, voluntariosa... Espero o dia feliz em que possa ceder e deixar que ela reine absoluta nesta vida, para que finalmente eu consiga apenas ser. Sem fazer, sem querer, sem esperar... só confiar.
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