terça-feira, 10 de março de 2009

Poder celestial 2002

Como um imenso manto negro pairo sobre sua casa. Encubro telhado, terraço, plantas, janelas, portas, garagem, portão. Impeço o dia para que durma e sonhe. Para que acorde, imaginando que vive enquanto se ocupa dos acontecimentos diários, sem perceber sua voz triste, opaca e vazia. Ao mesmo tempo sua alma secular descansa em um sono ameno de lembranças; vive sorrisos, palavras, toques, tristezas, distâncias, saudade, gestos... e sonha o futuro. O dia em que você levantará da mesma forma que sempre, mas intuirá que dorme; buscará, sem bússola ou horizonte, a resposta para sua inquietação e, após horas cansativas na semiconsciência da incompletude, só restará a opção de repousar a cabeça sobre o travesseiro e chorar, lágrimas que sofre sua alma quando você diariamente parte sem ela. Neste momento, chorarão, você e ela, sobre a mesma cama, ocupando o mesmo espaço. A dor da falta de sua essência fará com que a sinta em si, que se una a ela e se perceba inteiramente: parte de um caminho maior do que essa vida. No dia seguinte serei um manto leve e claro envolvendo você, assim que acordar, protegendo seus passos em direção a um seu destino que se encontrava, há anos, abandonado.

Nenhum comentário: