terça-feira, 10 de março de 2009

Compaixão 2002

Chove fino. Caem gotas leves sobre minha alma de barro seco, que não conhece flores há muitos anos. Arrasto-me dolorida, sem erguer os pés nos passos inchados, as roupas em trapos, encardidas pela aridez de minha paisagem interior que suga a luminosidade da janela sem êxito. Quando choro não me rego, é apenas a vazante de um rio subterrâneo que, na superfície, secou faz tempo. Minha pele é de camaleão, opaca, confundida com os dias amarelentos. Sabor de giz na língua, saliva grossa de sede, cabelos de quem não se vê no espelho. Não mais rimo a dor com outros sentimentos, olho o céu e vejo partes isoladas da natureza unidas pela lógica do universo. As aves são barulhentas, os animais rasteiros incômodos, os maiores, temeridade. Sofro em uma depressão longa, da qual não se vê o final no horizonte estéril. Sigo em frente, sem lágrimas, sem dor no coração, porque o desconheço. Que é de mim? Não lembro... Há tempos tive sonhos, hoje não durmo. Meus olhos seguem duros por sobre o isolamento, fixos em frente, sempre, fiéis à direção de meus passos involuntários. Quero cair, prostrar, esquecer... morrer sob um céu que não protege.

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