domingo, 8 de março de 2009

Fuga 2002

Não, você não mora em meu coração. Jamais esteve lá, a não ser quando o cruzou para alcançar seu lugar em mim, aquele que se situa mais dentro e profundamente. Sem consciência você o atravessou, fechando a porta sem cuidado, já que existia apenas para você, e se instalou em um onde que eu mesma desconhecia. E foi nesse lugar que sempre busquei você, porque lá pulsava a dor insuportável, o lamento interminável de um amor que se sobrepunha a todas as sensações e acontecimentos. E foi nesse lugar que sempre chorei baixinho, abraçada a você, que também doloria minha ausência. Nesse lugar guardei todas as lembranças, todas as impressões, todas as belezas desse tempo em que desejei você comigo. É nesse lugar que nos encontramos hoje ainda, um lugar que só existe em nossos sonhos e desejo, porque nele estamos sempre, sem partidas, sem distanciamentos, sem beijos de despedida, sem saudade, sem necessidade de acalentar a ausência com as lembranças. Tanto sofro, meu amor, uma saudade infinda que se renova e expande em sua própria dor. É como um veneno escuro que se infiltra em tudo o que sou e me enrijece prisioneira de uma masmorra gélida e silenciosa de angústia envolta no pavor que teme a eternidade. Assim me sinto hoje, assim me sinto sem você, sempre.

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