sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Hermógenes

O homem está fugindo.
Foge dos outros.
Foge do tédio, do perigo, da ansiedade, do vazio, da fome, da guerra, da privação, da morte...
Mas a fuga principal é aquela com que procura escapar do encontro consigo mesmo.
Cada um se sente, para si mesmo, a maior ameaça, a decepção maior.
O homem tem medo de saber o que ele é.
Todas as portas de escape são buscadas, contanto que se aliene do que é ou supõe ser.
LSD, aquisições, aplausos, divertimentos, prazeres, euforizantes, vícios, pervertidos ócios, negócios sufocantes... As portas são muitas...
Que pavor da solidão!
Todas as portas parecem válidas, mas são frustradoras.
Que pavor do silêncio!
Silêncio e solidão lhe parecem ameaças. Por isto são temidos e evitados.
Lastimável e trágico erro!
Poucos podem aceitar que a salvação está na direção oposta à da fuga.
A libertação, o remédio e a paz estão no fim da estrada do silêncio e da solidão.
Foi-nos insistentemente ensinado “conhece-te a ti mesmo”. Têm-nos insistentemente repetido que a “verdade que liberta” nos salvará.
Mas, até agora não aceitamos.
E o escapismo universal segue devastando o homem e tudo.
A procura de si mesmo - em silêncio e só - é a esperança.
E a minha esperança é que se voltem para ela todos os homens.

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